Hospital da Criança pode virar um ‘hospital-geral’, sugere proposta da Ezute

Fundação de São Paulo foi contratada para serviços que possam fazer hospital de Maringá funcionar

Como já aconteceu em outros empreendimentos hospitalares da Organização Mundial da Família, ONG sediada em Curitiba, o município de Maringá acaba gastando milhões de reais não previstos quando a obra foi anunciada, no ano eleitoral de 2018. No entanto, os gastos não tocam o coração da Acim, que prefere invocar contra vereadores eleitos pelo povo.

Além da vigilância e de obras não previstas, os gastos mais recentes do Hospital da Criança e que não sensibilizam órgãos de fiscalização de recursos públicos foram com a contratação da Ezure, de São Paulo, para confeccionar o projeto de funcionamento do hospital. A negociação foi feita via Agência Maringaense de Regulação, e não diretamente pela Secretaria de Saúde, que, no entanto, terá um servidor para a fiscalização. A AMR, como informado aqui, tem uma nova estrutura que vai custar mais caro que a adequação, legal, de 15 para 23 vereadores. Aliás, alguns poderiam aproveitar a brecha e dar uma olhada no Hospital da Criança, obra prometida para ser entregue em 8 meses e até agora sem funcionar.

Em outubro a Prefeitura de Maringá contratou, com recursos próprios (e não com dinheiro do convênio idealizado no final de 2017 pelo ex-ministro da Saúde Ricardo Barros), a Fundação Ezure, por R$ 1.098.000,00, para “prestação de serviços em programação técnica, operacional, financeira e jurídica para a concessão de uso de bem público para a operacionalização” pelo período de 12 meses.

Na proposta técnico-orçamentária de 141 páginas elaborado pela empresa, que tem entre seus analistas o engenheiro Tarcísio Takashi Muta, traz uma sugestão. Diz que, em caso de eventual licitação deserta ao final da execução dos serviços, a opção pode ser alterar o perfil assistencial do hospital para um hospital-geral, e incluindo a alteração do modelo de concessão para concessão administrativa Parceria Público-Privada, e aí “a Fundação Ezute se dispõe a apoiar a Prefeitura de Maringá na captação de recursos privados por meio de chamamento público para recebimento de doação com encargo para custear total ou parcialmente esta futura nova estruturação”. Ou seja, o Hospital da Criança não realizaria a o fim para o qual foi anunciado.

O termo de referência não tem assinatura de nenhum servidor técnico da Secretaria de Saúde e o processo foi aberto por estagiário e sem assinatura de um superior. A dispensa de licitação é possível em caso de caráter técnico justificável, mas o processo não traz essa justificativa. O valor do projeto corresponde a quase 1% do valor gasto na estrutura do hospital.

Dirigentes de outros hospitais estiveram no hospital, mas o entendimento é unânime até agora: o nosocômio é inviável para ser administrado por terceiro. Para o poder público custaria cerca de R$ 200 milhões por ano. Circula que, sem equipe sequer para organizar o funcionamento, e daí a necessidade de se ter um projeto de implementação, o complexo hospitalar feito com recursos públicos de cerca de R$ 160 milhões acabe sendo vendido para a iniciativa privada, que em contrapartida ofertaria vagas para o SUS.

Até onde se sabe, a Acim, através do Observatório Social de Maringá, não se interessou em dar ao menos uma olhadinha no caso. Se a Câmara Municipal tivesse 8 vereadores a mais seria possível que um deles achasse que todo o processo que envolve o hospital merece ser verificado.