Rezas e chás, as receitas de dona Nadir

Mineira que mora em Lidianópolis, no Vale do Ivaí, herdou legado do marido, que era benzedor, e mesmo com idade avançada mantém a tradição de orar e cultivar plantas medicinais
Arruda, carqueja, capim-cidreira, erva-doce, babosa… dona Nadir toca a mão nas folhas, explicando o efeito curativo de cada uma delas espalhadas pelo seu quintal. De dor de cabeça à tal espinhela caída, cada uma tem seu poder de cura. Basta fazer o chá e beber direitinho, com fé em Deus, claro, acrescenta Nadir Ferreira Pellegrini, que herdou o ofício de rezadeira do marido, Arlindo. Ele morreu, mas ela mantém um altar na cabeceira da cama para rezar, quase sempre pela intercessão de alguém que lhe pede.
Um homem de uns 50 e poucos anos, que a procura, diz estar com um “cobreiro” nas costas. Vez ou outra, aparece alguém com “mau oiado”, cujos sintomas diz ser uma dor insistente acima da boca do estômago. Quebranto, que atinge mais crianças, pode deixar os pequenos sonolentos e mal-humorados. Uma reza aliada a um chá é a dica. Ela repassa a receita à mãe, descrevendo as propriedades de alguma planta que muitas vezes a pessoa tem no quintal de casa, mas não conhece.
Nascida em 8 de novembro de 1937, mineira de Cláudio, dona Nadir, que vive em Lidianópolis, no Vale do Ivaí, chegou ao Paraná em 1951 com o marido, que era benzedor. Por causa da idade, ela atende, pelo celular, apenas conhecidos, com pedidos de oração e receita de plantas medicinais. “A pessoa me liga, diz o problema, anoto o nome e, à noite, rezo”, diz. “Algumas vezes indico um chá que pode ajudar, sem cobrar nada”. Após o tratamento, alguns insistem em dar algum presente. “Se é de bom coração e não vai fazer falta tudo bem, pois ninguém deve usar Deus para ganhar dinheiro”.
O conhecimento e a sabedoria de dona Nadir vêm da tradição oral. Ela aprendeu com o marido, que aprendera com os pais dele. Por exemplo, as propriedades curativas de uma planta chamada olho-de-boi, que em certos lugares é conhecida por coronha. “Na década de 1950, a gente já sabia que os grãos desta planta ajudam a curar distúrbios circulatórios, hoje, se você consultar a internet tá lá, mas naquela época quase ninguém sabia”, diz. De fato, uma busca no Google revela que o pó do olho-de-boi é indicado para problemas no sistema nervoso e circulatório.
Para dona Nadir, não faltam adjetivos se a questão é plantas medicinais. Basta acompanhá-la pelo espaçoso quintal. Uma parada, um afago na folha de um pé de alguma coisa, considerado um mato qualquer. Mas ela começa a falar do vegetal, que parece lhe revelar suas propriedades medicinais. Dona Nadir fala com as plantas, e elas parecem entender.
(*) Donizete Oliveira, jornalista e historiador. Fotos e texto. Confira outras reportagens no site O Repórter Andarilho.
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