Estão desmontando o Paraná

Primeiro trem chega a Cianorte, em 1973; os trilhos iriam até Guaíra, mas acabou sendo a parada final

Quase sempre aparece uma crise antes. Se tudo está bem, fabrica-se a crise, o que não é difícil.

Banestado: era um banco próspero: financiava o desenvolvimento do Paraná, a agricultura, a indústria e o comércio. De repente, a crise: empréstimos para apaniguados sem perspectivas de pagamentos, pressão sobre os funcionários inesperadamente considerados em número excessivo, interferência política por liberações financeiras especiais geradas por campanhas eleitorais caríssimas e o pior aconteceu: o repasse do Banestado para o Banco Itaú que, no silêncio da política de privacidade, no máximo sussurrava que na prática assumiu dívidas do banco estatal, embora até hoje, por meio do Fomento Paraná, costume leiloar bens originários do antigo Banestado.

Ferrovia Cianorte-Guaíra: nunca saiu do papel. Era um compromisso da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná ante a compra simbólica das florestas de toda a região norte/noroeste do Estado por ser colonizada. Os trilhos chegaram a Cianorte em 1973 e por ali ficaram. A linha férrea deveria alcançar Guaíra, onde seria implantada uma plataforma logística, mas nada aconteceu.

O tempo jogava a favor da poderosa colonizadora inglesa, tanto assim que conseguiu na década de 80 liberação do general presidente Ernesto Geisel, quanto ao compromisso de construir a ferrovia por onde se transportaria com mais segurança e menor custo a produção de importante região do Paraná, como também de abundantes colheitas do Paraguai até o porto de Paranaguá. Para que não pairassem lisuras quanto à negociação realizada, o presidente da República determinou o desmonte de todas as estações ferroviárias do Brasil, convertendo- as em museus e centros de cultura, enquanto lá fora, os países desenvolvidos realizavam investimentos prioritários no transporte ferroviário.

Porto de Paranaguá: a China não se permite vender, mas usa seu poder para conseguir mercados. Como se já não bastasse a liberação de um porto nas imediações do Maranhão, estratégico inclusive para o transporte de minério de ferro, manganês, cobre, níquel, ouro, bauxita e cassiterita de nossos 18 bilhões de toneladas de rochas mineralizadas na cordilheira de Carajás do sudeste do Pará, decidiu não somente usar, como também comprar 90 por cento dos terminais de contêineres de Paranaguá para o transporte de soja e carne diretamente para a gigante asiática.Para a China, o controle dos portos faz parte de uma guerra econômica.

Copel: fundada em 1954 pelo governador Bento Munhoz da Rocha Neto, sempre foi lucrativa. O atual governador do Paraná a vendeu para a Bordeaux Fundo der Investimentos. “Fizemos um negócio da China”, anunciaram os novos donos da Copel. Em dois anos de arrecadação, quitaremos todo o capital investido na compra da empresa paranaense.

De qualquer forma, ainda existem esperanças de que o Poder Judiciário consiga barrar a efetivação da venda criminosa, aprovada infelizmente pela maioria dos Deputados da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná.

Sanepar: ouvem- se nos bastidores ruídos de montagem da “crise”. A pergunta básica é: será que a água servida ao povo paranaense é de boa qualidade? É evidente que fiscalizar a qualidade da água é algo meritório. Se existirem problemas, que os próprios técnicos da Sanepar os corrijam, mas que não sejam usados como pretexto para mais uma torpe privatização.

Basta de antiparanismo. Não permitamos que traidores do povo paranaense prossigam impunemente desmontando o nosso Paraná.


(*) Tadeu França
ex-deputado federal constituinte

Foto: jws.com.br