Em nome de Deus querem implantar o reino do tinhoso

É difícil entender essas pessoas que defendem Deus, família e propriedade e repetem, sem nenhuma informação, essa lorota de que o PL das Fakes News quer censurar notícias de interesse popular. Isso depois de pagar mico na frente dos quarteis pela volta do regime militar, que censurava até os mesmo os textos das missas. Defender essas plataformas gigantes de conteúdo é uma alienação inaceitável, porque elas põem em risco a soberania do país. E do mundo.
O PL das Fakes News quer apenas que as plataformas estejam debaixo das mesmas leis que regulamentam a comunicação convencional. Hoje, todo órgão de comunicação que abre espaço para alguém falar, tem que se responsabilizar pelo o que é falado. E se pisa na bola, responde na justiça. Nenhum órgão, rádio, jornal, TV, site ou mesmo os jornalistas independentes, tem a regalia de fazer o que as plataformas fazem: abrir espaço para gente sem caráter ganhar dinheiro, popularidade ou eleições, com mentiras, calunias, difamações e roubos, sem qualquer responsabilidade.
Os críticos do PL das Fakes News dizem que no caso das plataformas, também se pode recorrer à justiça. Pode-se, mas é uma missão quase impossível. Precisa-se de um advogado especializado e faz-se uma maratona que poucas pessoas têm condições de começar. Basta ver que nem para receber dinheiro essas plataformas atendem gente de carne e osso. É tudo online. Quase sempre se fala com máquinas. Os anúncios podem ser feitos online e o pagamento é pelo cartão, que, obviamente, é adiantado. Algumas dessas empresas estão em países pouco democráticos e quase inacessíveis, justamente para fugir dos processos. Até mesmo governos têm dificuldades de manter contatos com elas e precisam jogar duro se querem manter a lei.
Essas plataformas, admitindo ou não, fazem convite e abrem espaços a qualquer tipo de fraude. Ao contrário da comunicação normal, aceitam postagens de mensagens de texto ou anúncios comerciais sem que o anunciante tenha que e mostrar a cara. É só ver o que fizeram os golpistas presos pela polícia nesta semana. Eles criavam sites falsos de órgãos públicos e pagavam o próprio Google para promovê-los. Quando o cidadão fazia a pesquisa, o site falso aparecia no topo da lista e o dinheiro ia para a conta dos golpistas.
Só esse exemplo deveria ser suficiente para derrubar os argumentos das plataformas e seus defensores. Mas é apenas um grãozinho de areia, porque são milhões que fazem isso e é quase impossível saber quanto de dinheiro as empresas ganham, às custas de golpes nos usuários, que elas alegam defender. Golpe na Internet é um roubo fácil e permite ganhar milhões com o auxílio das próprias plataformas, que insistem em jurar que não permitem fraudes.
Num tempo normal, os primeiros que deveriam defender o PL das Fakes News seriam os comerciantes. Eles empregam milhões de pessoas e perdem diariamente a guerra da concorrência, não para os colegas que vendem pela Internet, isso eles também podem fazer, mas para os golpistas.
Vê-se no Facebook, por exemplo, todos os dias a ação dessas quadrilhas. Anunciam produtos com preços extremamente baixos, como parecidos com os de grandes empresas, Americanas, Magalu e Mercado Livre, principalmente, e quando o pedido é feito e pago, percebe-se o golpe. Geralmente o anúncio chama a atenção de pessoas que têm pouca experiência nas redes ou confiam cegamente nos sites de vendas da Internet. Parece que os golpistas fazem o anúncio sem passar qualquer filtragem, porque se tivesse algum controle, como por exemplo, a checagem do CNPJ, isso não aconteceria. É uma negociação entre maquinas e as ofertas aparecem a qualquer hora do dia ou da noite, sem que as plataformas tenham qualquer pudor de ainda promovê-las, sob pagamento, é claro, e assim ajudar no roubo ou na divulgação das mentiras.
Descobri esses golpes no ano passado, quando estava querendo comprar um notebook. Pesquisei dias e dias muitos sites. O notebook que eu queria, nunca aparecia por menos de cinco mil. Numa noite, possivelmente em resposta às minhas pesquisas, os algoritmos são para isso, apareceu uma oferta relâmpago da Americanas, daquelas que têm cronômetro que anuncia o prazo que a mamata vai acabar. Oferecia um notebook bem melhor do que o que eu estava querendo e por somente setecentos reais.
Como já comprei coisas na Americanas, não prestei nenhuma atenção e fiquei tão seguro que me inclinei a me passar para trás. E só não consegui porque tenho como regra não pôr meu cartão na Internet e também porque entre a minha casa e o Itaú tem uma lotérica.
O milagre era tão espetacular que comprei. No boleto, mas comprei. Lembrei-me de um amigo que se gabava de comprar coisas batatas nas ofertas relâmpagos na madrugada pela Internet e achei que era a minha vez levar vantagem. Cheguei até a transformar a compra num jogo de azar. Ruminei que valeria à pena arriscar, diante de tanto milagre. Fui salvo pela experiência da atendente da lotérica. Ela viu a conta em que o dinheiro entraria e constatou que não era a da Americanas. Se tivesse se limitado e receber, como poderia fazer qualquer outra, eu teria perdido os setecentos reais.
Pesquisei depois na Internet e vi que tem uma multidão que cai nesse golpe das ofertas relâmpagos e depois fica tentando receber das empresas o dinheiro perdido. Mas raramente vão adiante, porque é um esforço quase inútil, já que tem centenas querendo fazer a mesma coisa e teriam que ir à justiça. E também porque têm vergonha de assumir que caíram num golpe tão tabajara e pagar o mico de otários. Como os valores não são tão altos, quase todos os prejudicados desistem.
Depois do perigo, via nas ofertas que aparecem no Face que seria quase impossível me passar para trás, se não tivesse negligenciado algumas regras simples: os sites que fazem essas ofertas, não oferecem acesso à página inicial das lojas, e quando se tenta avançar neles e ir para outras áreas de compras, não têm opções; também podem ser identificados pelo número de curtidores, que sempre é minúsculo. Por exemplo, quando uma oferta aparece, se se leva a flechinha do mouse à marca do vendedor, quando se trata de empresas conhecidas, aparecem os curtidores e, no caso de lojas famosas, vê-se colegas de Face que curtem a página.
Pensei que esses anúncios falsos poderiam ser um assunto para o CONAR, já que é o órgão que tem a função de cuidar da publicidade. Mandei-lhe um e-mail com minha experiência e me pediram que mandasse o anúncio, mas isso foi impossível, porque não salvei e ele desapareceu assim que fiz a compra, não deixando rastro, o que é um outro sinal que se deve seguir, porque numa compra honesta, fica o histórico para o acompanhamento da entrega do produto. Então salvei diversas outras ofertas que vi no Face e mandei, mas até agora não deram resposta. Não sei se não querem mexer com gente grande, se estão investigando e vão me dar resposta ou se acharam que não é coisa da área do Conar.
Depois de quase perder o escasso dinheirinho e de ver todas essas falsas mentiras sobre o PL das Fakes News, chega-se à triste conclusão de que o valor que se perde com esses golpes de compras falsas, que ninguém sabe quanto é, é quase nada, quando comparado com o estrago que as notícias falsas podem fazer na vida de pessoas, empresas ou instituições.
Sem um freio nessas plataformas gigantes, daqui uns dias estaremos sem Deus, sem famílias, sem propriedades e sem planeta, porque a barbárie se perpetuará, legalizada pela imbecilidade.
Será então o reino do tinhoso.