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Toma lá dá cá

São Francisco de Assis estaria triste por causa do mau uso de sua oração

Há quem diga que São Francisco estaria apreensivo. Cabisbaixo, anda pra lá e pra cá. Sente-se triste por causa do mau uso da oração que ensinou: “Ó mestre, fazei que eu procure mais; Consolar que ser consolado; Compreender que ser compreendido; Amar que ser amado; Pois é dando que se recebe; É perdoando que se é perdoado; E é morrendo que se vive; Para a vida eterna”. O verso “é dando que se recebe” entrou no dicionário da política. Político recebe um favor e, em troca, faz outro. O bom humor do brasileiro denominou o troca-troca de toma lá dá cá. A expressão se escreve desse jeitinho, sem hífen e sem vírgula, nos ensina Dad Squarisi, editora de Opinião do Correio Braziliense e comentarista da TV Brasília.

Não vamos falar do centrão, de Arthur Lira, do presidencialismo de coalizão, pretexto para governabilidade. Queremos refletir sobre o que algumas pessoas confundem como espécie de toma lá dá cá, numa passagem evangélica, assim resumida e comentada, em uma das obras da codificação espírita, o Livro O Evangelho Segundo o Espiritismo::

‘Pedi e se vos dará; buscai e achareis; batei à porta e se vos abrirá; porquanto quem pede recebe e quem procura acha, e àquele que bata à porta, abrir-se-á.(…) o que do ponto de vista terreno, é a máxima é análoga a outra: Ajuda-te a ti mesmo, que o céu te ajudará. O princípio da lei do trabalho e do progresso.

No começo da humanidade, o homem só aplicava a inteligência na busca do alimento, preserva-se das intempéries, defender-se dos inimigos. Mas o desejo do melhor o impeliu à pesquisa de novas descobertas, invenções, e ao aperfeiçoamento da ciência, porque é a ciência que lhe proporciona o que lhe falta. Às necessidades do corpo sucedem as do espírito. Depois do alimento material, precisa do espiritual. É assim que o homem passa da selvageria à civilização.

Mas pouco é o progresso que cada um realiza, individualmente, numa existência de menos 100 anos, logo a humanidade, sem a preexistência e a reexistência da alma, não progrediria. Se as almas se fossem, com a morte do corpo físico, para não mais voltarem, a humanidade se renovaria incessantemente com os elementos primitivos, tendo que fazer e aprender tudo. Não haveria, nesse caso, razão para que o homem se achasse hoje mais adiantado do que nas primeiras idades do mundo, uma vez que a cada nascimento todo o trabalho intelectual teria de recomeçar. Ao contrário, voltando com o progresso que já realizou e adquirindo de cada vez alguma coisa a mais, a alma passa gradualmente da barbárie à civilização material e desta à civilização moral.

Não estamos isentos do trabalho braçal, nem do intelectual sem os quais o espírito teria permanecido na infância, no estado de instinto animal. Por isso o labor é uma necessidade. Procura e acharás; trabalha e produzirás, nos diz Jesus. Desse modo seremos credores de nossas obras, teremoso mérito e seremos recompensados pelo que tenhamos feito.

Portanto, não esperemos ajuda de forças divinas para nos poupar do trabalho das pesquisas, trazendo-nos prontas a ser utilizadas. Se assim fosse, o mais preguiçoso poderia enriquecer-se e o mais ignorante tornar-se sábio à custa de nada e ambos se atribuírem o mérito do que não fizeram.

Do ponto de vista moral, podemos interpretar as palavras de Jesus, assim: ‘Peçam a luz que vos clareie o caminho e ela vos será dada. Peçam forças para resistirdes ao mal e as tereis. Peçam a assistência dos bons Espíritos e eles virão acompanhar-vos. Peçam bons conselhos e eles não vos serão jamais recusados. Batam, à porta e peçam sinceramente, com fé, confiança e fervor. Apresentem-se com humildade, sem arrogância, sem o que sereis abandonados às vossas próprias forças e as quedas que derdes serão o castigo do vosso orgulho.’

E finalizando, promessas não convencem Deus. É dando o melhor de nós que receberemos o que merecermos, naturalmente. Nas leis divinas não há espaço para toma lá dá cá.

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