Projeto Cannabis

Já que o Projeto Cannabis é medicinal por que não circunscrevê-lo à responsabilidade dos nossos pesquisadores e cientistas sob a supervisão da Anvisa?
Só quem conviveu com o drama de dependentes químicos sabe que o usuário exclusivo não existe. Supor o contrário é ingenuidade dos legisladores ou da mais alta corte judiciária do país. Os mais insuspeitos não hesitam em vender uma porçãozinha ao menos, para manter o círculo vicioso da própria droga.
Em quase meio século de magistério, acompanhei de perto o drama de filhas e de filhos atormentados pelo cárcere das drogas ao lado de pais atônitos.
A permissão do uso do veneno um pouco por dia, a exemplo dos 60 gramas para o “uso pessoal”, de acordo com autorização firmada pelo STF, é o mesmo que fechar os olhos ante a servidão imposta pelo inferno alucinante das drogas. O próprio império maldito dos acorrentados às mais aberrantes variações de dependência química da cracolândia invariavelmente é um atestado vivo de que ninguém que se inicia em drogas permanece com dosagem pequena indefinidamente. Ao contrário, os três primeiros degraus da história do vício de cada um (a) quase sempre começou pela maconha; na sequência, a cocaína e depois, o crack.
Afinal de contas, que futuro pretendemos às novas gerações de nossa pátria?
PS – Até novembro de 2022 a Anvisa já aprovou 23 produtos de Cannabis, sendo 9 à base de extratos de Cannabis sativa e 14 de canabidiol
(*) Tadeu Bento França é professor aposentado e foi deputado federal constituinte
Foto: RDNE Stock project