A regressão de Tarcísio

Num novo acesso de terraplanismo, avisou que não vai comprar novas câmeras corporais para a PM

De Elio Gaspari, em O Globo:

A política transformou Lula, um metalúrgico com o primário completo e um curso de torneiro mecânico do Senai, no único brasileiro eleito três vezes para a Presidência da República.

Noutra ponta das virtudes curriculares, Jair Bolsonaro, já eleito, recebeu numa manhã de dezembro de 2018, o ex-oficial Tarcísio de Freitas. Nunca o havia visto, e o encontro foi sugerido por um coronel. Tarcísio tinha sido um dos melhores alunos do Instituto Militar de Engenharia e comandara uma faxina do governo de Dilma Rousseff na burocracia dos transportes.

Terminada a conversa, Bolsonaro pediu-lhe que voltasse à tarde. Ele voltou e foi convidado para o Ministério da Infraestrutura. Simples assim.

Passou algum tempo, e Bolsonaro sugeriu a Tarcísio o que parecia ser uma maluquice: ele deveria disputar o governo de São Paulo. Elegeu-se.

Como a política transforma as pessoas, o aluno brilhante do IME meteu-se em dois episódios capazes de enrubescer até a turma da limpeza do instituto.

Defendendo uma batatada de seu secretário de Educação, disse que o governo ofereceria livros didáticos em versões eletrônicas, e os estudantes que não tivessem tablets ou computadores poderiam imprimi-los. Só não informou onde.

Num novo acesso de terraplanismo, avisou que não vai comprar novas câmeras corporais para a PM e disse:

“Qual é a efetividade da câmera corporal na segurança do cidadão? Nenhuma”.

Nesse progresso de regressão, Tarcísio arrisca condenar a aplicação da vacina contra a dengue em São Paulo.

Foto: Sergio Barzaghi/Governo do Estado de SP