Uma piscina, distraído, caí nela…

Água até a cintura. Caí consciente, se isso é possível

O verbo cair me conjugou. No pretérito perfeito, eu caí. No lugar da casca de banana, uma piscina. Após quilômetros noite adentro, cheguei a uma festa de 15 anos. Na roça. Especial. Da minha sobrinha. No meio dos convidados, uma piscina, azul. Um pouco mais à frente, uma cerca de balaústre. Fazia tempo que não via. Fui lá apreciar. Na volta, olhei pro céu. Um breu salpicado de luzes cintilantes. As estrelas. Radiantes.

Mirei uma, brilhante. Talvez, o planeta Vênus, visível nesta época do ano. Mas do lado dela parecia haver uma sombra. Aquilo me intrigou. Travei os olhos. Ao voltar, senti um vazio. Tibum. Água até a cintura. Caí consciente, se isso é possível. O celular, na minha mão, ergui-o. Mesmo assim molhou com o impacto na água, que chegou à cintura. Saí rápido. Encharcado.

Os convivas entre o riso e a preocupação. Na recém barganha do céu brilhante pelo azul da água, tudo bem comigo! Quisera eu ser o Tião Carreiro: “Eu não caio do cavalo/Nem do burro nem do gaio”. Caí na piscina. Com prazer, até. E sem susto. Voltei a visualizar a estrela no céu, mas não mais vi a pretensa sombra. A roupa logo secou. Um tecido leve, resistente à chuva e ao sol. Como canta o Benito Di Paula: “tudo está em seu lugar”. E vale o riso. Quem não riu? Até eu. Avaria? Só o celular. Vítima de uma piscina no meio do caminho.


(*) Donizete Oliveira, jornalista e historiador.

Foto: Jill Burrow/Pexels