Congressistas, não brinquem com as drogas

Que o uso medicinal das drogas seja prerrogativa de cientistas e de pesquisadores, bem como supervisionada pela Anvisa

Assim como não existe meia gravidez, não existe também o meio usuário de drogas. A dependência química, por sua própria natureza, tende fatalmente a evoluir para os extremos. A abstinência é muito relativa e requer um esforço heroico para não recair no vício. É implacável o jugo das drogas ante o ” é só mais uma” pelos pares ou traficantes.

Mas a canabis tem uma vertente de cura. Então com a palavra a ciência médica, responsável que é pela prescrição do medicamento. Daí, a incluir na forma da lei um percentual de uso aos dependentes dela é o mesmo que legitimarr uma fração básica de veneno a quem quiser consumi-lo.

Seria a maconha uma linda e inofensiva erva? Não. Em meus longos anos na condição de professor universitário, pude constatar que a quase totalidade de ex-alunos dependentes químicos sempre se iniciava pela maconha, mas nunca paravam por aí. Veja, por exemplo, a confissão desta ex-aluna: ” Comecei pela maconha. Em busca de emoções mais fortes, apelei para a cocaína e, finalmente, pela maldição do crack”.

Respondi que se ela decidisse deixar as drogas, que voltasse a falar comigo, caso fosse impossível o diálogo com o pai.

– Já decepcionei demais o meu pai. Já fugi de casas de recuperação e nem tenho condições de pedir outra oportunidade para ele. Você aceitaria me dar carona a uma boa casa de recuperação?
– Sim.

Agendada a viagem, encontrei a universitária já drogada, mas insistindo em viajar. Na trajetória, a insistência da garota:
– Pare o carro no acostamento, que eu não aguento de vontade de fumar um crack.
– Mas você trouxe drogas?

Em silêncio, ela apenas me exibiu um recipiente, contendo maconha, cocaína e crack.
– Mas você quer ou não quer deixar as drogas ?
– Calma, professor, é a saideira. Mas você estaciona o carro?
– Com uma condição: a de que você me entregue o recipiente com a reserva das três drogas.

Enquanto ela preparava o cachimbo, eu tranquei as reservas no porta-malas do carro, mesmo porque o plano dela era usá-las na casa de recuperação.
– E outra – insisti. Terminada a sua fumaça, vou quebrar o seu cachimbinho nas pedras do acostamento.
– Calma, profe.


(*) Tadeu França, professor e ex-deputado constituinte

Arte s/ foto de Paulo Pinto