Vitru/UniCesumar migra de bolsa internacional para a bolsa brasileira

Foi a primeira vez que uma empresa brasileira faz a migração da Nasdaq para a B3; setor de ensino superior privado se movimenta após perda de receita líquida

Na semana passada, em publieditorial no site Poder360, a Vitru Educação anunciou algo incomum: estava deixando a poderosa Nasdaq, onde estava desde setembro 2020 e levantou US$ 96 bilhões, e entrando na B3, a bolsa de valores do Brasil. A Vitru é dona da UniCesumar e o assunto continua sendo sendo alvo de especialistas, como ocorreu hoje com Bruno Meyer, da Jovem Pan.

A justificativa é de que estar no mercado de capitais brasileiro dá mais “acessibilidade ao investidor local e aproxima a empresa desse público”; a migração visa a aumentar a liquidez de suas ações, atraindo investudos individuais e fundos de investimento. Dos 939 mil alunos de ensino superior e técnico da Vitru, 916,6 mil estudam a distância.

Ontem, na Folha de S. Paulo, Marcelo Azevedo explicou que a bolsa de valores do país saiu de um patamar recorde para o pior desempenho entre as principais economias do mundo em 2024. Neste ano, o Ibovespa acumula queda de mais de 10%, descolando-se dos índices globais, que, em sua maioria, registram valorização. (…) A deterioração é resultado do aumento da percepção de risco do Brasil entre investidores, em especial após incertezas sobre a condução das políticas econômica e monetária”, aponta.

“As taxas americanas têm forte poder sobre o fluxo financeiro global. Quanto mais altos estiverem os juros dos EUA, maior a atratividade da renda fixa americana, uma das mais seguras do mundo. Com altos rendimentos num mercado de baixo risco, investidores ficam menos dispostos a investir em outros países, em especial os emergentes. (…) Em janeiro, no entanto, o mercado azedou. Novos dados mostraram força surpreendente da economia americana e esfriaram apostas sobre o tão esperado corte nos juros dos EUA. Até hoje as taxas do país seguem na faixa entre 5,25% e 5,50% —maior patamar em 23 anos—, e as previsões mais otimistas esperam que a redução ocorra apenas em setembro”, acrescenta.

No final de abril, Beth Koike e Fernanda Guimarães, do jornal Valor Econômico, divulgaram que grupos de ensino superior se preparavam para nova onda de consolidação no setor; grupos como Cruzeiro do Sul, Vitru, Yduqs e Clariens começaram a analisar fusões, como forma de destravar valor e gerar mais liquidez ao papel das empresas do setor, que tem ficado fora do radar dos investidores.

Entre 2015 e 2022, informou a reportagem, a receita líquida do setor de ensino superior (considerando apenas graduação) caiu de R$ 71 bilhões para R$ 58 bilhões. Essa queda de 18,3% é devido à redução do Fies, programa de financiamento estudantil do governo, e a crise econômica. Os nove maiores grupos – entre elas a Uniasselvi e UniCesumar, do mesmo – detêm 58% de participação de mercado, segundo dados são da consultoria Hoper Educação.

“Uma possibilidade seria uma associação entre Cruzeiro e Vitru, uma vez que essa última atua basicamente em ensino a distância (é a líder deste mercado) e a outra é forte no presencial – seriam operações complementares. Essa transação também poderia ser uma alternativa de saída para os fundos Vinci e Carlyle que estão na Vitru desde 2015, quando ambos estrearam no setor de educação comprando a Uniasselvi por R$ 1 bilhão [a UniCesumar foi vendida por cerca de R$ 3 bilhões, em 2021]”, informa.