Farinha do mesmo saco

A suposta rivalidade entre grupos políticos, cada qual apontando o dedo para os erros do outro e defendendo práticas divergentes, parece desvanecer-se quando as urnas se fecham

Na selva da política, sempre há um risco iminente em cada palavra pronunciada. Como já nos advertiu a sabedoria divina, a língua é um chicote afiado, capaz de fustigar até os mais poderosos. Recentemente, testemunhamos um espetáculo digno de nota, com uma parlamentar audaciosa se vangloriando de sua transparência: “Aqui é sem fake news, sem processo”, proclamava ela. Mas, como é de praxe na política, não tardou para que a verdade cavalgasse em sua direção.

Mas o foco hoje se volta a um prefeito que, em seus inflamados discursos, alardeava suas contas imaculadas enquanto desferia críticas mordazes a seu predecessor. Ironia do destino, agora o prefeito terá que engolir suas palavras ácidas, pois seus próprios erros, tão semelhantes aos do criticado, vieram à tona. O jogo virou, e como virou!

E não é apenas ele. Um ex-prefeito, agora pré-candidato, também não escapou ileso: suas contas já foram julgadas irregulares. A política tem esse gosto amargo de decepção: primeiro se critica, depois se repete o erro. E nós, meros espectadores desse teatro, não podemos deixar de nos perguntar: quem, afinal, está sendo ludibriado aqui? Não seríamos nós, o povo?

A suposta rivalidade entre grupos políticos, cada qual apontando o dedo para os erros do outro e defendendo práticas divergentes, parece desvanecer-se quando as urnas se fecham. No final das contas, os apertos de mãos nos bastidores revelam a verdade: as velhas práticas, outrora condenadas, retornam triunfantes.

Será que, no final das contas, eles acabam todos juntos, cometendo os mesmos erros? Agora, temos duas versões aprimoradas do mesmo filme em 2024: de um lado, o ex-prefeito; do outro, o vice-prefeito daquele que é mais do mesmo. Alguma mudança à vista? Nenhuma. O povo já conhece o roteiro e sabe exatamente como essa história termina.

De sua eterna roteirista das mazelas e ironias do poder,  
Madame Savage.