Funcionar funciona, “pero no mucho”
O tempo chuvoso e a neblina impediram pousos e decolagens, a partir do meio da madrugada até o fim do dia no aeroporto de Maringá, um majestoso, florido e pujante município do noroeste paranaense
O check-in havia sido feito no dia anterior, pela Internet. Malas prontas, a última conferida nos documentos, o pet clamando por um derradeiro carinho. O voo da madrugada sairia às cinco horas. Sairia. O tempo chuvoso e a neblina impediram pousos e decolagens, a partir do meio da madrugada até o fim do dia no aeroporto de Maringá, um majestoso, florido e pujante município do noroeste paranaense. Uai, mas e o equipamento de última geração, instalado recentemente com pompa e circunstância pelos nossos dedicados governantes locais? Não funciona? Sim, deveria funcionar perfeitamente. Pelo menos essa foi a intenção primeira do mandatário transitório daquela infraestrutura aeroportuária. Além do mais, as instabilidades se resumiam a chuva fina e neblina, nada de vendavais ou outras intercorrências severas do clima. Apenas o trivial, mas nem isso o tal do ILS (Instrument Landing System), ou sistema de pouso por instrumento, e dar conta do recado.
O jeito então foi juntar paciência e esperar pelo desfecho do imbróglio. Compromissos na capital paulista obrigatoriamente adiados, o bolso reclamando dos preços nos estabelecimentos gastronômicos ali instalados, a chuva persistente, o friozinho implacável. No fim da manhã a companhia aérea ofereceu transporte rodoviário para Presidente Prudente, de onde a aeronave decolaria para o aeroporto de Viracopos, em Campinas, fato esse somente viabilizado algumas horas depois. Mais uma hora e meia de carro até o destino. A terra da garoa foi finalmente alcançada depois das 23:30 horas, uma maravilhosa e inesquecível viagem de pouco mais de 600 quilômetros, após o périplo de impressionantes 19 horas no trecho. Poderia ser diferente, se o processo de “modernização e fortalecimento” do aeroporto da frondosa e idolatrada Cidade Canção viesse a funcionar como o esperado.
No fim, a comprovação é a de que apenas as palavras ao vento se confirmaram, tais como “além da comodidade proporcionada aos passageiros, o avanço despertará a atenção das companhias aéreas para nosso aeroporto, que ganha mais potencial de pousos e decolagens”, conforme garantiu o superintendente à época. Com o início das operações em 16 de janeiro desse ano, as expectativas eram realmente de que as operações de pouso e decolagem estivessem à altura da crescente procura pelo transporte aéreo na região. Infelizmente, por razões até o momento desconhecidas, a realidade é bem diferente daquela dos empolados discursos oficiais.
Há um longo caminho a se percorrer para que a situação atual possa ser considerada como a ideal, no quesito eficiência dos serviços prestados pelo aeroporto maringaense. Não obstante as obras ali em execução, nota-se que, pelo porte e relevância do município, com a demanda considerável da região metropolitana e até de outros estados, fica cada vez mais perceptível a mediocridade da administração do terminal aéreo. Evidentemente que as condições climáticas tiveram sua parcela de contribuição nos acontecimentos, mas isso absolutamente não justifica o “apagão aéreo” que afetou centenas de usuários. Certamente o sistema de pouso por instrumentos haverá de receber ajustes e calibrações em suas antenas para que opere a contento, com mais potência, mesmo em condições adversas. Porque atualmente, funcionar funciona, “pero no mucho”.
(*) José Luiz Boromelo, escritor e cronista em Marialva/PR
Foto: SBMG