Plebiscitos por amor à terra mãe
Os caubóis invasores do oeste americano aqui ressurgem no Leste, no Sul, no Oeste e no Norte também e seguem comprando nossa pátria-mãe
O cacique Touro Sentado, que no século XIX comandou 3.500 indígenas sioux e cheyennes contra a cavalaria federal do exército americano sob as ordens do general Custer, recusou-se não só a liberar, como também vender aos caubóis invasores da marcha para o oeste a terra em que nasceram.
– Vender a terra? Nunca. O branco não sabe que a terra é a nossa mãe? É impossível abandonar ou vender nossa mãe. Ela não tem preço. A terra é a mãe de todos os sioux e de todos os cheyennes.
Atacados pela poderosa cavalaria americana, sioux e cheyennes impuseram a maior derrota da cavalaria americana, que custou a morte do próprio general Custer.
A sabedoria do cacique Touro Sentado continua mais atual do que nunca, mesmo porque em nossa pátria, costuma- se vender às corporações estrangeiras não somente a terra em que nascemos, como também o patrimônio nacional que nos foi legado por nossos antepassados e que por eles foi construído a preço de suor, lágrimas e sangue. Os caubóis invasores do oeste americano aqui ressurgem no Leste, no Sul, no Oeste e no Norte também e seguem comprando nossa pátria-mãe. A forma é silenciosa e discreta. O aliciamento pode ser tanto por meio de um projeto de lei, a exemplo do número 2.963/19, que facilitava a compra, a posse ou arrendamento de propriedades rurais no Brasil por pessoas físicas ou empresas estrangeiras, como também sob o aparentemente inofensivo módulo fiscal ” zelando” para que não se permitisse a venda de mais que 25% da superfície de cada município nacional a grupos estrangeiros.
Do governo José Sarney para cá, sempre em nome do pagamento dos juros de rolagem da dívida pública, foram vendidas à ganância internacional empresas como a Companhia Brasileira de Cobre, a Embraer, o Banespa, a Eletrobrás, a Philips, a Light, a Usiminas, a Telebrás, a Copel, o Porto de Paranaguá, a Indústria do Xisto e uma infinidade de outras tantas, todas elas estranhamente lucrativas nas mãos de acionistas estrangeiros e sempre rotuladas como ” deficitárias, enquanto brasileiras.
A verdade é que se o povo brasileiro não for legalmente convocado por meio de plebiscitos, a autorizar ou não a privatização internacional de nosso patrimônio público, prosseguiremos assistindo de braços cruzados ao desmonte de nossas riquezas ao seleto grupo de potências que entre si disputam o domínio do planeta.
Plebiscitos substituiriam os nefastos acordos de desnacionalização do Brasil
atualmente em voga.
Lembram-se de que no passado, somente para um cidadão norte-americano, Daniel Ludwig, foi doada na Amazônia uma área maior do que a Bélgica? Vocês sabiam que há mais de meio século, a China está destruindo o arquipélago de Carajás no sudeste do Pará, reserva que é de 18 bilhões de toneladas de minério de ferro, cobre, estanho, bauxita, cassiterita e até ouro, deixando para o futuro abismos ambientais sem precedentes? O preço pago pelos chineses é tão simbólico que o Pará, mesmo sendo o maior estado minerador da atualidade, continua pobre.
Que façamos nossa a sabedoria do cacique Touro Sentado: “A terra (brasileira) é a nossa mãe”.
(*) Tadeu França – professor universitário e ex-deputado federal constituinte
Foto: David F. Barry