As andorinhas voltaram
As andorinhas emergiram do seio da sociedade e estão ávidas para conquistar o disputado cargo, reconhecidamente revestido por apreciadas mordomias
A revoada ocorre invariavelmente a cada dois anos em todas as regiões do País e envolve uma variedade impressionante de indivíduos. De todos os tamanhos, cores e principalmente, intenções. É possível identificar subespécies como andorinhões opulentos, de longe os mais propensos a atingir os objetivos, pois são privilegiados por receber ração gratuita da melhor qualidade, fornecida às expensas do contribuinte. Tem também os do meio termo, nem tanto magrelos, de tamanho mediano, mas igualmente sagazes o suficiente para defender suas áreas de atuação, mantendo razoavelmente o território conquistado a duras penas.
Finalmente identificamos o terceiro e inofensivo, mas barulhento grupo de
andorinhas. Miudinhas, mirradas, sem expressão alguma, que não chegam a incomodar ninguém. Fazem lá seu alvoroço costumeiro, pulam de galho em galho a procura de um lugar seguro que lhes garantam a subsistência futura, mas se prestam mesmo a meros coadjuvantes da agitação sazonal. Dificilmente algum
integrante dessa classe subalterna consegue se sobressair, mas não está descartado algum imprevisto desse tipo.
E o eleitor brasileiro está novamente às voltas com as estripulias dos candidatos. As andorinhas emergiram do seio da sociedade e estão ávidas para conquistar o disputado cargo, reconhecidamente revestido por apreciadas mordomias. Novo pleito, muitas caras novas e um renque de dinossauros que não largam o osso. Encontram mil maneiras diferentes e tecnológicas para tentar fisgar aqueles
desavisados, porém todos, impreterivelmente, se utilizam das mesmíssimas mentiras de sempre.
Impressiona a criatividade dessa gente, cujas iniciativas deslancham satisfatoriamente quando lubrificadas com recursos públicos. Obviamente, não são reconhecidas positivamente pela forma ou conteúdo, pois nessa seara infecta não se encontra credibilidade ou argumentos factíveis. Destacam-se por suas
inconsistências gritantes e pelo palavreado deliberadamente ardiloso, uma forma matreira de persuadir e influenciar as pessoas.
Com o advento da tecnologia, os postulantes a cargos públicos descobriram que o emprego seletivo da semântica tem o poder de confundir, ludibriar e conquistar os menos letrados. Acrescente-se a isso a ingenuidade gritante de uma grande parcela da população, com propensão a acreditar em tudo o que é divulgado pelas redes sociais e pronto: a propalada “verdade” está ali, a um toque da tela
iluminada. Evidentemente, existem aqueles candidatos cujos atributos ecessários para o exercício de um mandato eletivo são indiscutíveis. Ocorre que o sistema político no País é corrompido na origem. Ainda que a intenção primeira do novo empossado seja realmente servir a sociedade, seu posicionamento deve
se ajustar aos interesses da legenda que representa, uma vez que a força política se consolida com o alinhamento de diferentes siglas partidárias.
É necessário, portanto, que o eleitor conheça realmente a vida pregressa de seu candidato. As bravatas contadas há décadas por paraquedistas mal intencionados devem ser ignoradas, porque alguns candidatos sequer conhecem as atribuições inerentes ao cargo postulado. A lorota da galera festiva do “vou fazer isso e aquilo” deve ser classificada como promessa de campanha e nada mais, porque até mesmo a lendária figura do irreverente e astucioso Pedro Malasartes tinha lá sua aura de respeito ao próximo. Ao exercer democraticamente o sagrado direito com sabedoria, o votante estará determinando o futuro da nação e prosperidade para as próximas gerações.
(*) José Luiz Boromelo, escritor e cronista em Marialva/PR.