O dever cívico e o político brasileiro

Uma significativa parcela dos postulantes a cargos públicos não tem a mínima noção das atribuições dos vereadores e dos prefeitos

Chegou o momento de o eleitor brasileiro depositar sua opção nas urnas. O tão comentado “dever cívico” reveste-se de nuances cada vez mais complexas diante de propostas tão distintas, seja pelas convicções ideológicas dos candidatos ou simplesmente pelos interesses nada republicanos que permeiam as campanhas eleitorais. O que se sobressai nessa época são as promessas estapafúrdias, visivelmente inexequíveis, desprovidas de um mínimo de credibilidade. Uma significativa parcela dos postulantes a cargos públicos não tem a mínima noção das atribuições dos vereadores e dos prefeitos, muito menos das peculiaridades que envolvem o funcionamento daqueles poderes constituídos. Parece que alguns candidatos a cargos públicos não têm mais nada de produtivo para fazer na vida, a não ser colocar seu nome para avaliação pública, mesmo conhecedor prévio de resultados pífios. A história recente mostra que os limites do bom senso são ignorados até mesmo por candidatos a cargos majoritários em metrópoles, com a inesperada cadeirada escancarando o nível raso de civilidade utilizado nos debates.

Mas o que leva o eleitor a definir sua escolha? Quais parâmetros seriam utilizados para determinar o direcionamento do voto? A aparência física, a simpatia, a inteligência, o discernimento em apresentar as propostas seriam suficientes para convencer o eleitorado? A vida pregressa do candidato realmente importa, ou passa despercebida diante do eleitor desatento, aquele que costumeiramente se mantém avesso aos acontecimentos? E como ficam aqueles políticos tradicionais, os da moda antiga, que por décadas manipularam a massa, inserindo gradativamente familiares na atividade, promovendo verdadeiras oligarquias partidárias com objetivos específicos? Estariam teoricamente em vantagem diante da aparente fragilidade dos calouros inexperientes?

Independente de ideologias, o eleitor deve votar conforme sua consciência. É imprescindível. portanto, conhecer as propostas dos candidatos. Não é missão impossível selecionar alguns nomes que supostamente passariam pelo crivo perceptível da competência, da probidade e da decência. Os aventureiros oportunistas são identificados de imediato, tamanha a inconsistência de suas assertivas e suas posturas ostensivamente exageradas. Esses são meros coadjuvantes dos artistas principais, aqueles que realmente buscam se colocar à disposição para acolher e eventualmente atender as demandas da sociedade. O problema com os políticos dessa nação acomodada é que, apesar de a malha da peneira utilizada nessa tarefa seja a mais fina possível, os eleitos convenientemente se esquecem das promessas de campanha. Passam a legislar e governar em causa própria e dos assemelhados, fato que acaba gerando dúvidas no eleitor, cada vez mais incrédulo quanto às verdadeiras intenções de seus futuros representantes.

Apesar das recorrentes estripulias dos candidatos, a única maneira de tentar mudar o rumo da história é através do voto consciente. Para isso, o eleitor tem à disposição mecanismos tecnológicos suficientes para uma pesquisa rápida e eficiente, que possibilitam nortear satisfatoriamente sua importante decisão. Ainda que não tenhamos representantes à altura das aspirações legítimas e urgentes da sociedade, ignorar o chamamento da democracia não é uma opção sensata. Portanto, o voto é a forma democrática de expressar a vontade de um povo e a soberania de uma nação.


(*) José Luiz Boromelo, escritor e cronista em Marialva/PR

Foto: Antonio Augusto/TSE