O Dia das Crianças mais triste da história de Maringá

A vida é um sopro, e esse sopro, ligeiro, tênue, delicado, em nada se assemelha à capacidade de um Porsche acelerar irresponsavelmente pelas ruas de uma cidade

Isabely Cristina dos Santos Felix, de 19 anos, era uma criança quando perdeu a vida no último dia 12 de outubro, em Maringá. Pela lei, ela era maior de idade. Para o pai, tratava-se apenas da sua bebê, da sua filhinha, do seu dengo, do amor maior da sua vida. Isabely era apenas uma criança.

Leandro Felix resistiu 36 dias após ver a vida da sua filha ceifada por um motorista de um Porsche, que não mediu as consequências após furar um sinal vermelho na Av. Gastão Vidigal, em Maringá, e atingir violentamente a motocicleta onde estava Isabely e o namorado dela. Eles eram apenas crianças.

O pai da vítima parecia forte nas entrevistas para a televisão. Os repórteres choraram. O Brasil chorou, pois se tornou notícia nacional. E Leandro Felix parecia ter uma força sobre humana em busca da Justiça, ele acreditava na Justiça. Mas sucumbiu após 36 dias. Ele já não era uma criança, mas também não era idoso. Tinha 50 anos de idade e viveu certamente o peso de outros 50 anos de vida durante “apenas” 36 dias, período que separa o dia da tragédia e o dia do falecimento da sua filha, da sua criança, da Isabely.

Quando foi a última vez que Leandro presenteou Isabely no Dia das Crianças? Quando foi que ela pediu de presente ao pai a liberdade de poder viver, andar de moto, curtir a boa companhia do namorado, e de assim acreditar no futuro como uma criança que, assim como a mariposa, passeia pela juventude para finalmente se tornar mulher?

A vida é um sopro, e esse sopro, ligeiro, tênue, delicado, em nada se assemelha à capacidade de um Porsche acelerar irresponsavelmente pelas ruas de uma cidade. Será que Francis Mayko Alves, de 38 anos, não teve infância suficiente para pilotar carros velozes apenas em seu imaginário? Será que o veículo importado, na cor amarela, tratou-se de um graúdo presente no Dia das Crianças para esse moleque de quase 40 anos? E o que importa, não é mesmo?

Maringá passou pelo Dia das Crianças mais triste de toda a sua história. Mas essa grande responsabilidade talvez não seja levada em conta por advogados, juízes doutos e interpretadores da Lei fria como um gelo, da advocacia das brechas e do jeitinho. Talvez o meninão que gostava de acelerar o Porsche vai ganhar presentes no Natal, sendo o mais especial uma liberdade disfarçada em crime culposo.

Só que ninguém, nunca mais, deveria comemorar o Dia das Crianças em Maringá. Porque quando um pai perde uma filha, uma criança, o seu grande amor, isso não deveria passar impune jamais. Ele tentou sobreviver, mas eu sou pai, e eu também morreria se eu perdesse o Gabriel: e ele foi um grande guerreiro nesses 36 dias de provação e sabe o que Deus mais ele passou.

Não houve Dia das Crianças para Isabely. E não haverá Natal para toda aquela família. Leandro Felix: parabéns pelo combate durante 36 dias, descanse em paz, cansado pai. Cansado como todos nós. Eu, pelo menos, estou exausto de tantas injustiças.