Arenito com mais de 350 milhões de anos é um dos atrativos do Parque Estadual Vila Velha, em Ponta Grossa, cujo passeio se estende a uma lagoa de água cristalina e a Furnas, uma enorme cratera com mais de 100 metros de profundidade, que desafia os visitantes a observá-la de tirolesa ou em voo de balão
O motorista reduz a velocidade. Um portal às margens da BR-376 anuncia que ali é a entrada ao Parque Estadual Vila Velha, em Ponta Grossa (PR). Um jovem, pela janela de uma guarita, diz para seguir por uns 700 metros, deixar o carro no estacionamento e ir a pé até onde se compram os ingressos. Um conglomerado de casas, com lojinha, restaurante e escritório de turismo. Dali, de hora em hora, partem os ônibus com os visitantes aos Arenitos, Lagoa Dourada e Furnas.
Os ingressos custam R$ 60,00 e mais R$ 25,00 de estacionamento. Após dois quilômetros, o ônibus para num pontinho. Um monitor explica um pouco do local e dá dicas de prevenção aos visitantes. Não saíam da trilha, não toque nos paredões, cuidado com animais peçonhentos. Munidos de garrafas de água e celulares, eles partem por uma trilha de dois quilômetros. Não tenha pressa porque há muito o que ver.
Estamos à frente de uma formação geológica de 350 milhões de anos. Enormes blocos de arenitos cobertos por óxido de ferro. Bata o pé no chão e confirme que você está diante de algo mais velho que os dinossauros, que habitaram a Terra há 250 milhões de anos. Estudos indicam que aquele pedaço de chão e seus monumentos naturais se formaram no período Carbonífero. As geleiras agregavam sedimentos e, com o degelo, formavam-se os blocos de arenito.
“Tempo rei, ó, tempo rei, ó, tempo rei/Transformai as velhas formas do viver”, canta Gilberto Gil. Mas o tempo com ajuda da água e dos ventos transforma também pedras. Sim, os arenitos de Vila Velha ganharam formas, transformando-se em figuras. Leão, índio, garrafa, camelo, tartaruga e aquilo que sua imaginação permitir. Pare, erga a cabeça e mire os olhos. Daí a pouco terá visto o formato de algo. Algumas imagens são quase reais; outras nem tanto.
A mais famosa é a taça. Um painel de fotos antigas na porta do escritório que administra o parque retrata visitas ao local. Antigamente, era permitido subir aos blocos de pedras. A família inteira posava para uma foto aos pés da simbólica taça. Hoje, leis ambientais impedem que visitantes se aproximem dos monumentos naturais. Para evitar que o vandalizem. Em alguns pontos, há nomes grafados nos arenitos. Resultado da liberação que se tinha para andar em meio às pedras, fora da trilha.
Entre os caminhantes de celular em punho e cabeça erguida se ouvem falares estrangeiros. Uma guia acompanha duas alemãs, que se divertem com os formatos dos arenitos. À frente, um senhor de camisa branca e calça jeans proseia com dois jovens. Diz que estivera ali na década de 1970. Morador de Curitiba, tirou um dia para rever o que chamou de “fantástica obra da natureza”. “Muita gente mora aqui perto e não vem ver uma coisa tão bela assim, mas também vale a pena rever, que é meu caso”, afirma.
De volta ao escritório entramos em outro ônibus. Rumo à Lagoa Dourada. A beleza se revela na limpidez da água. Nas margens, enormes peixes tocam a areia. Os mais visíveis são da espécie tabarana, prateados que vêm à superfície para regozijo dos visitantes. Ali é um refúgio de peixes do Rio Tibagi, que a povoam para reproduzir. Com mais de 200 metros de diâmetro, em certas partes, a profundidade pode atingir mais de 30 metros.
A última parada é em Furnas. Uma cratera cercada de mato com mais de 100 metros de profundidade. Ali há uma espécie de lambari que é única no mundo, o “lambari das Furnas”. Amarelado, cauda levemente avermelhada. Os “andorinhões coleira falha” também as habitam. Vivem nos paredões, onde fazem ninhos. O elevador panorâmico que descia com visitantes ao local foi desativado. Havia risco de acidentes com as pessoas e ao meio ambiente. Mas vale a pena ver o “Caldeirão do inferno”, assim chamada a cratera de Furnas. Balões e tirolesa são opções para quem tiver coragem de vê-la por cima.
Leão, índio, mão e camelo, algumas das figuras esculpidas pela natureza nos paredões de arenito