Vereador defende recolhimento forçado de bens de pessoas em situação de rua

Ao invés de acolhimento, durante reunião vereador de Mandaguari sugere que poder público tome pertences de pessoas vulneráveis em situação de rua, o que é proibido pela legislação desde 2023
Uma reunião discutiu hoje a segurança pública em Mandaguari, a pedido do presidente da Câmara Municipal, Edilson Montanheri (PSD), que disse que tem sido cobrado sobre a presença de pessoas em situação de rua em alguns pontos da cidade da microrregião de Maringá.
Segundo ele, “muitas vezes essas pessoas sujam os espaços públicos, ameaçam moradores e cometem pequenos delitos, o que tem deixado a comunidade muito preocupada”, conforme release divulgado pela Câmara.
Dos participantes – vereadores, secretários, servidores públicos, Polícia Militar e os ‘representantes da sociedade civil organizada’ – ouviu-se que a questão é mais social do que de segurança e que as entidades voltadas para a assistência social, como o Cras, têm feito sua parte.
O que chamou a atenção foi a fala do vereador Fabio Sukekava Junior (PSD), que sugeriu que “a prefeitura retire objetos pessoais, como colchões, das pessoas em situação de vulnerabilidade social que moram nas ruas e espaços públicos para coibir a permanência delas”. Fabio foi o terceiro vereador mais votado nas últimas eleições, com 956 votos.
Como todos sabem (ou deveriam saber), em agosto de 2023 o Supremo Tribunal Federal proibiu o recolhimento forçado de bens e pertences de pessoas em situação de rua. A decisão foi tomada pelo ministro Alexandre de Moraes e confirmada em julgamento virtual. A decisão também proíbe a remoção e o transporte compulsório de pessoas em situação de rua; o uso de técnicas de arquitetura hostil, como barras em bancos de praças; e a remoção compulsória de pessoas em situação de rua para abrigos. O STF também orientou o que os governos devem fazer, como priorizar o atendimento das demandas dessa população. A ação foi apresentada pelo PSol, Rede Sustentabilidade e o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto.
Já a Renovação Carismática Católica, movimento da Igreja Católica que busca uma vivência mais intensa da fé cristã, possui um serviço social que atende pessoas em situação de rua. O serviço social da RCC atua em diversas áreas, incluindo a assistência a essas pessoas, como abordagem com empatia e respeito, fornecimento de alimentos e água, oferecimento de roupas e itrens de higiene, apoio emocional e social, encaminhamento para recursos e serviços, educação e sensibilização, ajuda a casas de apoio e voluntaria-se em abrigos e programas sociais.
Para quem acha que tem político que tem que se inteirar da legislação e/ou participar de bons cultos e boas missas: o autor da sugestão de tirar da pessoa vulnerável em situação de rua o pouco que ela tem é inscrito como advogado na OAB Paraná desde março de 2019 e ligado à Renovação Carismática Católica.
PS – O texto de release foi alterado após a veiculação dessa notícia. Substituíram e ficou assim: “O vereador Fabio Sukekava Junior (PSD) sugestionou (sic) que a prefeitura tenha um trabalho direcionado e retire objetos deixados, como colchões, papelões e outros materiais abandonados nos locais, que possivelmente seriam das pessoas em situação de vulnerabilidade social que moram nas ruas e espaços públicos, pois acabam saindo e “largando” tais materiais nos espaços aonde ficam, para que haja um ambiente limpo e organizado, estimulando que estes procurem um outro local mais adequado para se alocarem”.
Foto: Câmara de Mandaguari