A saudosa Tribuna da Imprensa

Confesso que senti saudade daquela turma da Redação da Tribuna, mesmo que nem havia nascido

Dando continuidade as minhas leituras neste ano, concluo mais um livro. Que não é apenas um relato literal em que as letrinhas preenchem as páginas. É uma história. A história de um jornal: A Tribuna da Imprensa, do jornalista Carlos Lacerda. Quem a escreveu foi Stefan Baciu. Jornalista, poeta e tradutor romeno, que viveu no Brasil entre 1949 e 1962. O jeito de ele contar história contagia. Apega-se a detalhes, prosas numa mesa de bar, encontros, enfim cenas que marcam e cativam.

E não faltava um bar ali no terraço do prédio que abrigava a Tribuna, na rua Lavrádio, 98, no Rio de Janeiro. O Bar do Darcy. Numa mesa poderiam se sentar o poeta Manuel Bandeira e o cronista Otto Lara Resende. Ali surgiam ideias para memoráveis reportagens. Li esse livro não com um viés político, de um Carlos Lacerda derrubador de presidentes, inimigo de Getúlio Vargas, apoiador do Golpe de 1964. Li com atenção aos pormenores. Por exemplo, a narrativa de Baciu sobre a mesa de trabalho do próprio Lacerda. Sempre abarrotada de papéis e livros. Muitos livros que ganhava, lia e os dava aos seus repórteres.

Baciu descreve vários personagens da Tribuna. Por exemplo, os revisores, figura há muito tempo abolida nos jornais. Um deles era o Zé Carlos. Alto, gordo, preto, sempre com um sorriso que lhe iluminava o rosto. Ao constatar algo diferente na chapa que iria para a impressora, se dirigia ao repórter: “O professor que me perdoe. Você acha que isso aqui deve ficar assim mesmo?” Com seu dedo grande apontava o erro na “escova” molhada. Caso o autor do erro não concordasse, o Zé respondia calmamente: “Tá bem, tá bem, a gente deixa assim mesmo”.

Confesso que senti saudade daquela turma da Redação da Tribuna, mesmo que nem havia nascido. O livro de Baciu é um documento do jornalismo brasileiro. Quem quiser se aprofundar no tema deve lê-lo. Delícia de escrito, que recomendo.