Velhas histórias; antigos heróis
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Maringaense, que se especializou colecionar e vender gibis raros,
mantêm hobby e clientes, apesar da agilidade e opções encontradas na internet
A mãe caminha com o filho que lhe segura a mão. O pequeno não tem olhares para um gibi do Fantasma pendurado na lateral de uma banca. Criado em 1936 pelo estadunidense Lee Falk, foi o primeiro aventureiro mascarado dos quadrinhos. Mas se as proezas daquele herói se perderam no tempo, o dono de uma banca de jornais e revistas, na esquina entre a rua Joubert de Carvalho e Avenida São Paulo, no centro de Maringá, as revive. Quem vai atrás dele em busca de gibis não é um garoto ávido pelas histórias de heróis em quadrinhos, mas colecionadores e curiosos.
Aparecido Ferreira, nascido em Londrina, chegou a Maringá em 1960 com a família. Ele tinha 14 anos e começou a trabalhar numa fábrica de móveis. Viu uma banca de jornais e revista na esquina das Avenidas São Paulo e Tamandaré. Comprou-a, mas logo a vendeu. Em 1973, ele a comprou de volta e a instalou em outra esquina, na mesma quadra, onde está até hoje. Apaixonado por histórias em quadrinho, coleciona e vende gibis. Entre os pendurados na banca, um de Roy Rogers. Ator, cantor e apresentador estadunidense que também teve uma versão em quadrinhos.
Do lado de fora, pendurado na porta, um exemplar da Revista O Guri, precursora dos quadrinhos brasileiros. Publicada pelo Diário da Noite, trazia histórias de Mary Marvel, Capitão América, Homem Morcego, que mais tarde se transformaria em Batman, Perigos de Nyoka, Raffles, entre outros. Cavaleiro Negro, Tarzan, Robin Hood e diversos do Walt Disney se espalham pelo local. Entre uma explicação e outra, Ferreira revela detalhes dos gibis. Um exemplar da Revista O Guri, dependendo do ano, pode custar até R$ 300,00. Do Roy Rogers, R$ 50,00 um mais raro em torno de R$ 100,00. “Quem gosta e coleciona, paga”, diz ele, que nos anos 1980 vendeu muitos gibis.
A internet ofuscou as vendas, mas traz novidades, possibilita colecionadores trocarem ideia sobre raridades. Por exemplo, um gibi do Mickey Mouse, capa dura, lançado em 1929. Apontado como primeiro título em quadrinho da Walt Disney, num site especializado, custa R$ 676,00. Mas preços são detalhes. Importa o material que nem sempre é fácil encontrar. Às vezes, algum pai fã dos quadrinhos leva o filho para conhecer a novidade. “Eles pegam o gibi, mostram, tentam fazer o filho se interessar, mas é difícil competir com os celulares”, lamenta Ferreira.
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A preocupação dele é com o legado, pois seus dois filhos não se interessam pelo assunto. Mesmo assim, ele se mantém como uma das poucas pessoas de Maringá especialistas em gibis antigos. Tanto que resolveu viver as aventuras do caubói Roy Rogers. Em fotos antigas, ele está de chapéu, revólver em punho e cinturão de bala. “Algumas vezes, me vestia como os personagens e encenava no quintal de casa”, conta ele, que se diz apaixonado pelas histórias em quadrinhos e gibis.
Outro que se dedica a preservar as histórias dos heróis dos gibis é o maringaense Nicolau Bubna. Apesar de ter mais de três mil deles, não fala em coleção, se considera “um ajuntador”. Desde menino, se interessava pelas histórias. O gosto o levou a guardar gibis. Alguns raros. Por exemplo, um Mandrake, de 1936. Personagem criado em 1934 pelo roteirista Lee Falk, mesmo criador do Fantasma. Tarzan, Durango Kid e Rocky Lane completam a lista de raridades. “Fui ajuntando e, quando percebi, tinha muita coisa”, diz ele por telefone.
Bubna tem a mesma preocupação de Ferreira: como transmitir o hobby aos filhos e netos? Diz que já tentou, mas eles não se interessam. Às vezes, até folheiam sem se aprofundar no assunto. Para ele, é quase impossível crianças e adolescentes, que chama de “geração celular”, trocarem o mundo virtual por histórias em quadrinhos. “Nosso tempo de infância era outro, quando a gente via um gibi logo se apaixonava pela aventura do protagonista”, declara ele, que também coleciona dezenas de filmes antigos.
Texto e fotos: Donizete Oliveira