Justo Veríssimo tinha razão

Pelo andar da carruagem, o governo parece ter incorporado aquela famosa máxima humorística do passado, diante da situação econômica atual

Na década de 1990, o impagável comediante Chico Anysio encarnou com maestria o personagem Justo Veríssimo, uma figura icônica que satirizava a realidade da classe política brasileira à época. Com o bordão “Eu quero que o pobre se exploda”, representava com perfeição o desdém pela corrupção e pelos menos favorecidos, trazendo à tona questões sociais e políticas com um toque genial de humor ácido e irreverente, sem se descolar do tema proposto. Essa capacidade em dar vida aos personagens marcantes e que tinham a capacidade de interagir plenamente com as aspirações legítimas da sociedade, se tornou em uma ferramenta poderosa na abordagem de temas sérios, que suscitavam as mais distintas reflexões. Foi-se o criador, mas a criação permanece e mostra que nossos representantes continuam com as mesmas velhas práticas de outrora.

Pelo andar da carruagem, o governo parece ter incorporado aquela famosa máxima humorística do passado, diante da situação econômica atual. Porque as ações oficiais, se é que foram realmente implementadas visando conter a inflação e promover o desenvolvimento, estão muito aquém das desejadas. Com a projeção de que a taxa Selic alcance os 15% em 2025, o dólar com tendência de alta e outras iniciativas propaladas que não surtiram o efeito esperado, o cenário é desalentador para a população. Prova disso é a carestia galopante, que pressiona cada vez mais o orçamento familiar. As incontáveis falácias de campanha estão sendo finalmente desmascaradas, mostrando que os interesses partidários sempre se sobrepuseram aos da sociedade. Os ingênuos eleitores que acreditaram no embuste da dupla “picanha e cervejinha”, agora sentem no bolso a alta nos preços de produtos básicos como a carne, o café, as frutas e até mesmo proteínas outrora de baixo custo como ovo, eleito maldosamente o vilão do momento. Em seus teatrais e recorrentes discursos, o mandatário atual demonstra total desfaçatez com a inteligência do cidadão ao questionar os motivos dos preços nesse patamar estratosférico, ainda que uma parcela dessa situação tenha sido agravada pela conjuntura econômica internacional.

Definitivamente, a hipocrisia não tem limites para esse grupo que se apresentou para conduzir o País pela terceira jornada. Sem fazer a lição de casa, torrando os sofridos recursos dos contribuintes sem limites e sem critérios, os 39 ministérios aprofundam a crise econômica e política. A gastança corre solta sem que algum acontecimento relevante venha a redirecionar a nação para seu caminho original. Eterno refém do Congresso e sem objetivos definidos na busca por um ínfimo equilíbrio fiscal, a “viva alma mais honesta desse País” ocupa parte de seu tempo com inaugurações e palanques vazios, sem deixar de lado o lastimável costume em opinar sobre política econômica externa e outros assuntos que não domina. O inconsistente governo do ex-sindicalista, desafeto declarado do agronegócio, agora torce para que se confirme a safra recorde de grãos e recorre a malabarismos políticos na tentativa de se segurar até o próximo pleito. Seus ardilosos e fictícios argumentos caíram por terra. Esfacelaram-se diante da realidade econômica de um País que há décadas, espera por homens públicos realmente comprometidos com os anseios da coletividade.

Justo Veríssimo tinha razão. Todos aqueles que lá estão querem mesmo é “que o pobre se exploda”. Simples assim.


José Luiz Boromelo, escritor e cronista em Marialva/PR.

Foto: Divulgação/Rede Globo