Lançado em 1939, traz dramas de pessoas acometidas por uma doença que espalhou medo pelo Brasil
Há livros esquecidos que revelam tempos sombrios vividos no Brasil. Vale a pena lê-los para entender um pouco mais de um país complexo. Um desses é “Floradas na Serra”, de Dinah Silveira de Queiroz. Lançado em 1939, traz dramas de pessoas acometidas por uma doença que espalhou medo pelo Brasil. A história se passa na Serra da Mantiqueira, onde foram construídos sanatórios para combater uma epidemia de tuberculose que assolou o Brasil no início do século passado.
Concentrados em Campos do Jordão, os sanatórios e pousadas recebiam os doentes que lá ficavam meses e até anos. Acreditava-se que o clima frio daquela região paulista ajudava no combate à moléstia, que chamavam de “peste branca”. Um tempo ingênuo de personagens carregados do mesmo adjetivo. Um pneumotórax, procedimento em que o médico introduzia um gás na cavidade torácica do paciente. Uma chapa (radiografia) e receita de vitaminas completavam o tratamento. A medicina pouco podia fazer para extirpar o mal que provocava sofrimento e arruinava vidas. A febre. A dor nas costas. Em casos mais graves, o sangue a verter pela boca. A morte agonizante.
Os remédios eficazes só foram descobertos na década de 1960. Com tratamento ambulatorial, os sanatórios foram desativados. Mas a vida naquelas aglomerações de pessoas não se resumia à doença. Cada personagem tinha seu drama, tão bem retratados no livro. A frágil e sensível Elza, por exemplo, que buscava a cura e revelava necessidade de se curar também dos seus traumas. Um livro que estampa uma parte de nossa história. Um romance que persuade o leitor. Das paisagens da Mantiqueira às idiossincrasias de cada personagem.
Apesar da eficácia do tratamento com potentes antibióticos, a tuberculose não baixou a guarda. Uma rápida pesquisa no Google revela que o Brasil é campeão de casos nas Américas. Em 2022, foram notificados, no país, cerca de 78 mil casos da doença, um aumento de 4,9% em relação a 2021. Portanto, diante de suspeitas, procure o posto de saúde mais próximo. O tratamento é gratuito.
A Editora Instante lançou esta impecável edição. Com uma belíssima capa e prefácio de Ana Maria Machado. Vale a pena conferir.