Tancredo  e Bolsonaro, o estadista e o golpista

Essas duas imagens mostram dois perfis antagônicos de político

Passados 40 anos da morte de  Tancredo Neves, o jornalista José Pedriali nos lembra de algumas diferenças entre os dois políticos, em texto publicado e que vi na sua rede social e peço licença para reproduzir. Pensei em acrescentar um comentário, mas não encontrei palavras, a não ser uma: ‘inacreditável’.  Inacreditável como gente boa, inteligente ainda diz que Bolsonaro foi um estadista, o melhor presidente do Brasil: ‘ceis tão de brincadeira, diria o neto’. Pode-se  não gostar de Lula e do PT e até os odiar, mas achar Bolsonaro bom é inacreditável. Vejamos o texto do Pedriali:

‘Essas duas imagens mostram dois perfis antagônicos de político. Na primeira, Tancredo Neves está rodeado dos médicos que o atenderam no Hospital das Clínicas, em São Paulo, onde ficou internado de 14 de março de 1985 – véspera de sua posse na Presidência da República – a 21 de abril, quando morreu.

É a única foto tornada pública durante seu longo internamento. Um roupão permite ver apenas a parte inferior do pijama e um cachecol protege seu pescoço. Calça chinelos. Sorri, constrangido, para enviar a mensagem de esperança em sua recuperação.

Tancredo foi um dos principais protagonistas da longa luta pela redemocratização. Após a derrota do projeto de eleições diretas em 1984 – ele era o governador de Minas na ocasião – desafiou no Colégio Eleitoral Paulo Maluf, escolhido para proteger a retaguarda dos militares, àquela altura cientes de que não tinham mais condições de permanecer no poder. Venceu, mas não levou. Seu internamento na véspera da posse abriu as portas do Palácio do Planalto a José Sarney.

Foi deputado federal, senador, ministro de Estado, primeiro-ministro (durante o tumultuado governo de João Goulart), governador de Minas. Só não foi presidente da República. Mas comportou-se durante toda a sua longa e produtiva carreira política como estadistas.

A segunda foto mostra Jair Bolsonaro no Hospital D’Or, em Brasília, após sua mais recente cirurgia intestinal. Expõe sem pudor os fios, tubos, compressas, faixas, curativos, tudo o que é exigido pelo pós-operatório. Entope as redes sociais de fotos e vídeos caminhando pelo hospital, fazendo fisioterapia, deitado, acompanhado ora da ex-primeira-dama, candidata em potencial à Presidência no ano que vem, e seu filho Carluxo, o “mago” das redes sociais, que faz do discurso do ódio e da mentira seu modos operandi – assim como o pai.

O despudor de Bolsonaro tem a clara finalidade de sensibilizar seus eleitores, reforçando sua falsa imagem de “mártir da liberdade”. E para mobilizá-los para a aprovação da anistia aos que tentaram um golpe de estado, que tinha a finalidade de mantê-lo ou devolvê-lo ao poder. Golpe engendrado por ele, ex-ministros e um magote de oficiais de alta patente e posto em execução por milhares de alucinados apoiadores. Golpe que fracassou porque, como tudo o que Bolsonaro fez, na Câmara dos Deputados e na Presidência da República, foi mal feito (exceto enriquecer e aos filhos por meio da política, atividade que jura odiar…). E também, ou principalmente porque as instituições democráticas souberam reagir à altura.

Bolsonaro foi presidente da República sem jamais ter sido um estadista. É, quando muito, um animador de torcida! O discreto Tancredo lutou para reconduzir-nos ao Estado Democrático de Direito. O espalhafatoso Bolsonaro fez o que pôde para nos devolver à ditadura.

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