Ledo Ivo e um golpe de Estado


O romance ensina que um golpe de Estado é arquitetado em detalhes. Demora, pois ao ser deflagrado só tem um caminho: derrubar o governo
Um retrato. O genial Ledo Ivo parece fotografar e transpor para o papel uma trama golpista. “O sobrinho do general” é uma história de amor e um romance político. Em 140 páginas, ele descreve as aventuras do general Martagão e do seu sobrinho Artur. Enquanto este busca o amor, mas só encontra desilusões, o general cerca o palácio, em um golpe de Estado. Ledo Ivo narra os pormenores da trama, revelando a hostilidade das elites, cujo interesse é controlar o poder. E estão sempre dispostas a tirar dele que não lhes agrada.
O romance ensina que um golpe de Estado é arquitetado em detalhes. Demora, pois ao ser deflagrado só tem um caminho: derrubar o governo. Se der errado, seus mentores serão golpeados. Vide o Brasil atual. Assim, cada personagem do livro se vê numa espécie de bolha de ar que pode explodir a qualquer momento. De repente, pode mudar tudo. Mas tem gente inocente, que não percebe o clima, e ficará sem ar ao se dar conta do mundo real.
Não por acaso, “O sobrinho do general” foi lançado em 1964, ano em que houve de fato um golpe no Brasil, instalando uma atroz ditadura que durou 20 anos. Como diz a própria contracapa do livro: “um romance cheio de peripécias, em que o principal personagem é o Brasil, um país à procura de si mesmo pelo caminho dos golpes de Estado e das revoluções sucessivas que, segundo o general envolvido, são sempre as últimas. E feitas para evitar novas revoluções”.