Os invisíveis de sempre


Cuidar de criança dá trabalho. Exige presença, constância, coragem. Não garante aplauso nem visibilidade
Seis meses. Meia dúzia de folhas arrancadas do calendário, e o que temos? Uma gestão que ainda parece em campanha. O prefeito Silvio Barros II, aquele mesmo que se vendia como parceiro das boas ideias, agora parece sócio majoritário da boa negação. Descobriu, com a mesma surpresa que um telespectador desavisado diante de uma novela, que o abrigo da cidade está em situação delicada. Delicada é bondade minha. Vergonhosa seria mais justo.
Enquanto isso, nos bastidores da política, o jogo de cena continua. Coletivos surgem como cogumelos após a chuva: dizem defender as crianças, mas só aparecem quando há holofotes, hashtags ou convites para mesa redonda com coffee break. Cadê eles nos plantões silenciosos da madrugada? Nas reuniões tensas com assistentes sociais que fazem mágica com orçamentos pífios? Sumidos.
E o Conselho? Murchou. Calou-se. E quando fala, é em tom burocrático, quase um sussurro. Me pergunto: é medo, cansaço ou conveniência?
A verdade que ninguém quer admitir, mas que Madame Savage joga na roda, é simples: cuidar de criança dá trabalho. Exige presença, constância, coragem. Não garante aplauso nem visibilidade. E talvez por isso mesmo seja deixado de lado. Afinal, qual político quer se meter onde não dá curtida?
É preciso repetir: nossas crianças merecem mais. Merecem mais que discursos comoventes e coletivos performáticos. Merecem uma política que abrace, não que se esconda atrás de notas oficiais.
E não, não estou generalizando. Tem gente séria nesse meio, sim. Mas quem se doeu, talvez devesse olhar no espelho antes de vir me responder com textão.
Madame Savage não passa pano. Nem para prefeito que se diz surpreso com o óbvio, nem para quem instrumentaliza a dor alheia para alimentar o próprio ego.
Essa história está longe de acabar. E eu, que tenho memória afiada e olhos atentos, vou acompanhar cada capítulo. Porque quem é mãe sabe: silêncio diante do abandono é crime por omissão.
Com veneno na pena e amor pelas verdades,
Madame Savage
Ilustração: Arte s/reprodução/rede social