Ecologicamente incorreto


O que se viu foram embalagens descartáveis de água e isotônicos espalhados à margem da via pública
Foi realizada no dia 24 de maio mais uma edição do evento ciclístico estilo montain bike conhecido como “Rota das Catedrais”. É caracterizado por roteiros que percorrem 30 quilômetros em vias urbanas e outros 90 em estradas rurais, com saída em Londrina e chegada em Maringá, passando por igrejas em comunidades históricas, locais onde se preserva a herança cultural dos colonizadores. O desafio exige dos participantes preparo físico e perseverança, uma vez que a topografia é acidentada, com a ocorrência de montanhas, vales, planícies e outras variações de altitude. Portanto, muito mais que um evento esportivo ou de superação pessoal, é a oportunidade perfeita para exercitar mecanismos na conquista de objetivos e metas da vida profissional.
Foram mais de 1.000 participantes que marcaram presença em suas modernas e equipadas bicicletas. Porém, alguns deixaram muito mais do que apenas as marcas do rastro na poeira da estrada. O que se viu foram embalagens descartáveis de água e isotônicos espalhados à margem da via pública. A organização do evento ainda recolheu e embalou o que foi produzido nas imediações da confluência das estradas Sarandi e Esse e em outros pontos de apoio, mas simplesmente ignorou as embalagens descartadas em uma extensão de aproximadamente 1.500 metros da rodovia pavimentada, onde existe uma ciclovia. Esse fato é recorrente, uma vez que na edição passada a mesma situação se repetiu com muito mais intensidade.
Diante do acontecido, é razoável assegurar que, não obstante a característica principal de participação e não de competição desse evento, o argumento não foi suficiente para produzir sentimentos ecologicamente corretos em determinados participantes. As peculiaridades como distância a ser percorrida e o grau de dificuldades do percurso requer a utilização de equipamento resistente e adequado. Subentende-se, portanto, que os trajes, além da tradicional proteção solar UV, continham necessariamente compartimentos para armazenar objetos pessoais, telefone celular e ainda, as embalagens de produtos consumidos durante a atividade esportiva. Faltou, portanto, um mínimo de bom senso. É necessário ainda analisar o fato sob a ótica da preservação do meio ambiente e do desapego com a saúde coletiva. Ignorar o risco de se propiciar a proliferação de moléstias contagiosas altamente letais ou contaminar a natureza demonstrando indiferença e total insensibilidade com a causa ambiental não combina com as intenções maiores de confraternização.
Finalmente, seria interessante que a próxima edição tivesse a recomendação explícita para que todo lixo produzido seja acondicionado pelo participante, a ser descartado em local previamente determinado. E para reforçar a pegada ambiental, fica a sugestão para que se altere o título do evento para “Rota ecológica das Catedrais”. Esse seria um elemento de persuasão interessante para a inserção de novos aventureiros de duas rodas, verdadeiramente comprometidos com a preservação do meio ambiente. Enquanto alguns incoerentes pedaleiros celebram o feito com postagens nas redes sociais, as embalagens abandonadas à beira da estrada se misturam ao lixo costumeiro do descaso diário coletivo, só esperando a primeira chuva para se transformar em potenciais criadouros de mosquitos. Faltou respeito e sobrou indiferença. O que não é novidade alguma. Infelizmente.
(*) José Luiz Boromelo, escritor e cronista em Marialva/PR
Foto: Reprodução/Rota das Catedrais