Aprendendo com Sasbachwalden

O nosso modelo fundiário continua sendo o das capitanias hereditárias

Em viagem pela Alemanha, optei por visitar também a pequena cidade de Sasbachwalden. Programado estava também um encontro com cooperados da vinícola local.

Enquanto os cumprimentava, senti- me à vontade para dizer: casas fantásticas, eu também quero um Mercedes para mim. Todos fazendeiros? Riram, mas o guia respondeu:

– A extensão das fazendas varia de 02 a 04 hectares.
– Como sobreviver com tão pouco?
– É a cooperativa da força de trabalho. Todos são donos de tudo, desde os equipamentos de que precisamos à venda do vinho que produzimos. Todos e só os 400 agricultores do município é que fazem parte do cooperativa.
– É mentira! – interferiu sorrindo o jovem Franz. – Em toda parte, existem jogadores que fazem gol contra. Aqui também. Quando surgiu a cooperativa baseada no ensinamento do mestre Friedrich: “o que alguém não consegue fazer sozinho,muitos conseguem”, houve três parceiros que se rebelaram contra a minicooperativa.Foi quando tomamos uma decisão: os três inúteis receberiam a mesma cota que os demais pela comercialização, mas que ficasse claro: eles seriam pagos para não incomodar.

Todos riram. Ficaram boquiabertos, quando afirmei que no Brasil, a pequena propriedade rural estava desaparecendo, esmagada que estava sendo pela concentração da terra em cada vez menor número de grandes propriedades.
Para que tenham uma ideia- prossegui- quem manda na agricultura brasileira é o agronegócio. Somente a fazenda principal do “rei da cana” tem a extensão de 601.5 milhões de hectares e é equivalente a dez países da Europa.

– País rico e povo pobre – deduziu Franz. – Nossos velhos também eram pobres. Cultivavam videiras para vender uvas. Empréstimos em bancos, produto perecível, vendas abaixo do preço de mercado, era sempre assim. Hoje, ninguém vende uvas. Produzimos vinho da melhor qualidade, de tal forma que temos por cliente até mesmo a Lufthansa, a maior empresa aérea alemã.

Convidado para a degustação das variações do vinho, não me fiz de rogado e prosseguimos conversando por longo tempo.

A verdade é que uma cooperativa ágil de trabalhadores e por eles mesmos gerenciada aqui seria vista como iniciativa da esquerda radical, de comunistas ou coisa parecida. O nosso modelo fundiário continua sendo o das capitanias hereditárias. Enquanto isso, o pequeno país denominado Israel exporta alimentos de suas cooperativas denominadas kibutz e nos Estados Unidos, as fazendas são menores que as nossas, planejam a produção por meio de centões diversificados, tendo optado preferencialmente pelo modelo de comunidade planejada.

Enquanto isso, os nossos ex-pequenos proprietários rurais atropelados pelo latifúndio nacional e internacional mais e mais engrossam as estatísticas dos ” moradores em situação de rua” ou se tornam adeptos dos milhões de assistidos pelo bolsa-família. Até quando?


(*) Tadeu França
ex- deputado federal constituinte

Foto: Clemens van LayUnsplash