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Não basta ser clássico. É preciso ser apresentável…

O principal do livro é a questão psicológica. A mente de cada personagem


De vez em quando me vejo de volta a algum clássico. Nos longínquos anos 1980, tentei ler “Crime e castigo”, de Fiódor Dostoievski. Não consegui. Achei um romance estranho, cheio de personagens cabulosos. Não entendi a trama. O personagem principal, o obscuro Raskolnikov, funcionava como um obstáculo, que me impedia de prosseguir a leitura. Cheguei à centésima página e abandonei o livro. O tempo passou e, na primeira faculdade que fiz, li um resumo da história e entendi superficialmente do que se tratava o livro.

No YouTube, uma rede da qual sou fã, assisti a uma aula sobre ele. Resolvi relê-lo. Escolhi uma edição da Martin Claret. Bela e requintada. Do jeito que um clássico merece. Apresentável. À altura de um presente encantador. Capa dura. A cor vermelha e o formato das letras do título lhe emprestam um charme que se junta à obra. A tradução direto do russo, de Oleg Almeida, é ótima. Adapta-se ao português brasileiro. Por exemplo, a utilização de expressões costumeiras: “Água mole em pedra dura”… para explicar uma atitude de Raskolnikov.

Ele cometera um crime. Um estudante miserável, que vivia de migalhas que a mãe lhe mandava. Habituou-se a recorrer a uma velha usurária. Empenhorava objetos em troca de dinheiro para quitar dívidas. Até que resolve matá-la. Executa-a com uma machadinha. A irmã dela chega de surpresa e também é morta. Ninguém presenciara os assassinatos. Mas Raskolnikov se sente culpado e não consegue digerir o crime. Ele tinha uma tese. Dizia que os “grandes homens” os cometem em massa. Citava Napoleão, que matara tantos e nunca fora punido. Um homem extraordinário; ele um sujeito ordinário.

O principal do livro é a questão psicológica. A mente de cada personagem. As artimanhas de interrogatório do juiz de instrução Porfiri, por exemplo. Frio e calculista, ele encurrala Raskolnikov, que se debate. Confessar, sim, mas como? Surge Sônia, uma prostituta, que vende o corpo para ajudar a família. Diante daquela menina franzina , ele encontra forças para assumir o que fizera. E ela o ampara até na prisão, cumprida na gelada Sibéria. Contudo, cada personagem é um poço, cujo fundo sempre parece mais abaixo. Um convite à reflexão do leitor. Percorrer o fio condutor da trama.

A Editora Martin Claret acertou. Não basta ser clássico. É preciso ser apresentável. Com uma bela capa dura seguida por páginas costuradas. Assim, o livro resiste ao tempo. Pode carregá-lo na mão, embaixo do braço. Meus cumprimentos à editora, que pensou em cada detalhe. Aliou a genialidade de Dostoievski ao bom gosto da arte visual.

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