O antigo e renovado prazer de ler o jornal impresso

Na internet, tudo chega em fragmentos: manchetes, alertas, postagens rápidas. No papel, as notícias se apresentam de outra forma

Voltei, finalmente, a conviver com a cartografia diária do jornal impresso. Entre compromissos e intervalos na minha agenda, reservo momentos para sentar e ler — às vezes no café da manhã, às vezes logo após o almoço, às vezes nos pequenos respiros do trabalho. É um prazer raro percorrer o jornal da primeira à última página, e eu havia esquecido como este prazer é profundo.

Na internet, tudo chega em fragmentos: manchetes, alertas, postagens rápidas. No papel, as notícias se apresentam de outra forma — com espaço visual que abriga acontecimentos da cidade, para relatar acidentes, crimes e ações da prefeitura, entrelaçando-se com temas nacionais e internacionais. Muitas dessas notas passariam despercebidas no mundo digital.

O jornal impresso me devolve um hábito antigo: acompanhar o “tabelão”. Sigo de perto os resultados do meu Furacão, o Atlético Paranaense na Série B, e do nosso Maringá na Série C e do também nosso Grêmio na Terceira Divisão do Paranaense. Até abandonei o aplicativo que usava no celular para isso.

Há um encanto especial nas colunas fixas em formato de “drops” — pequenas pílulas de informação que condensam o espírito do jornalismo impresso. Embora leia colunas semelhantes online, no papel elas têm outro peso. Sempre visito as seções de previsão do tempo, falecimentos e a voz do leitor, que traçam um retrato vivo da comunidade.

Algumas notícias arrancam sorrisos, como a de um motociclista flagrado pela prefeitura fazendo uma selfie — imagem que, na internet, viralizaria por horas, mas que no impresso preserva uma vida mais longa. Outras são duras, como os relatos de acidentes e crimes. E há as crônicas do cotidiano que me prendem, como a de hoje: “Célula e Celular”, de Aquino. Ele tem o dom de transformar pequenos temas em reflexões icônicas.

Talvez seja isso que me faz voltar ao jornal impresso. Entre tabelas de resultados, curiosidades e colunas inspiradoras, reencontro um mundo mais lento e mais inteiro — um lugar onde a notícia não apenas informa, mas também segue comigo e permanece.

Tudo isso porque fiz uma assinatura do Jornal Impresso, do Jornal do Povo de Maringá, que trouxe consigo uma saudade imensa do Verdelírio Barbosa, figura icônica da cidade que conheci por pouco tempo. Tivemos meia dúzia de encontros, todos recheadas com conversas espirituosas. Infelizmente, logo após conhecê-lo, ele faleceu. No entanto, sua memória permanece viva na cidade e no jornal. De certa forma, o prazer que sinto no jornal impresso é o mesmo prazer que o impulsionava na luta diária para publicar o Jornal do Povo para toda a população.

Marcos Cordiolli, Inverno de 2025.