Morre João Preis

Ex-secretário de Indústria e Comércio de Maringá faleceu aos 89 anos
Terá início às 8h desta terça-feira, 19, o velório do corpo do empresário João Preis, falecido hoje aos 89 anos. O velório acontecerá na sala nobre 1 da Capela do Prever da Zona 2, e o sepultamento foi marcado para as 17h, no Cemitério Municipal de Maringá.
João Preis foi uma das figuras políticas mais importantes da cidade, tendo sido secretário municipal de Indústria e Comércio, assumiu como deputado estadual e perdeu a eleição para prefeito em 1988 (ele era tido como favorito e perdeu para ex-diretor da Urbamar e engenheiro Ricardo Barros, do PFL), concorrendo pelo PMDB, e escreveu um livro biográfico. Seu João era irmão de Arno Preis, morto pela ditadura militar.

Sobre seu João, escreveu em 2021 o jornalista Dirceu Herrero: “Em 2019, o amigo historiador Reginaldo Dias me apresentou o ex-deputado João Preis, que queria lançar um livro sobre sua trajetória de vida. Encontro agradável que gerou uma nova amizade.
Para escrever a obra, contei com as memórias que Preis havia escrito sobre sua infância e adolescência. Foram mais de 30 entrevistas. Pesquisei jornais antigos, principalmente dos tempos em que Preis foi Secretário de Indústria e Comércio de Maringá, candidato a prefeito em 1988 e deputado estadual.
Nas reuniões agradáveis com João Preis, percebi que as prioridades dele sempre foram Deus, a família, o trabalho e o apoio às pessoas ou a comunidade em que está inserido.
Ouvindo pessoas de confiança, combativas, confirmei que ele foi um secretário municipal criativo, incansável e comprometido. Na opinião geral, até mesmo de outros políticos, o melhor secretário de indústria e comércio da história de Maringá. Perdeu as eleições de 1988 graças às fake news da época. Também é consenso que seria um grande prefeito se eleito.
Não bastassem estas qualificações, João Preis é um ser humano bem-humorado. Temos diferenças ideológicas, mas debatemos nossas posições políticas sem paixão e com respeito mútuo.
Ele encara os problemas da vida com disposição ímpar. Sua devoção e dedicação à esposa são dignos dos maiores elogios. Ambos criaram uma família maravilhosa e que segue o DNA dos Preis e dos Refundini (sobrenome de dona Ana).
Editar o livro de João Preis, meu 17º (15 escritos por encomenda), foi um grande aprendizado. E um prazer. Agradeço ao amigo Reginaldo Dias pela indicação. E agradeço ao João Preis, que passei a chamar de amigo, pela oportunidade de aprender mais sobre a vida.
Entre as fotos, Preis com a futura esposa Ana; ele, eu, Andrea Tragueta, diagramadora, e Adão Pereira, da gráfica Massoni. O amigo Messias Mendes fez várias entrevistas para o livro. Regina Daefiol, a revisão”. Abaixo, um dos capítulos da obra.
A dura vida na roça
Na roça, o trabalho era todo manual. A terra era arada no mês de julho e em agosto e setembro iniciávamos o plantio de milho, mandioca e soja. O solo era preparado por arados puxados por dois bois.
O serviço era por demais pesado, mas aos domingos, depois da missa – caminhávamos seis quilômetros até a igreja. Na parte da tarde de domingo sempre havia uma brincadeira dançante na casa de algum amigo da comunidade. Às vezes, era na minha casa. A animação ficava por conta de uma sanfona e um violão.
No sítio, produzíamos cultura de subsistência. O carro chefe do nosso trabalho era a criação de suínos, que engordávamos e vendíamos para os frigoríficos. Nossa comida era cozida com banha de porco. Não existia óleo como hoje.
Tínhamos vacas com leite e colmeias com mais de 30 caixas de abelhas que forneciam mel em quantidade o ano todo. Um pomar produzia laranja pera, maça, marmelo e uva. Com as uvas, fazíamos vinho. As frutas em geral eram transformadas em conservas para o ano inteiro.
Do canavial produzíamos o melado doce e açúcar mascavo. Com o leite das vacas confeccionávamos a manteiga e outros produtos. Plantávamos trigo e tínhamos farinha para 12 meses. Da mandioca, extraíamos o polvilho para fazer as roscas.
Dois bois eram abatidos por ano. A cada 30 dias matávamos um suíno. Em suma, tínhamos muita fartura. Havia um costume na roça. Quando se abatia um suíno, os dois pernis eram enviados para o vizinho da esquerda e ou da direita. Ao abater seus animais, os vizinhos retribuíam a gentileza.
No caso das novilhas, no dia do abate os vizinhos eram comunicados. Eles nos visitavam e ficavam com partes das carnes, que eram devidamente anotadas. Eles devolviam na mesma proporção quando do abate de suas rezes. Na falta de geladeira, essa medida era muito boa.
As carnes de porco eram cozidas e acomodadas em latas. Produzíamos salames com carnes bovina e suína. Também defumávamos parte das carnes para maior conservação.
Como praticávamos a cultura de subsistência, sobrava pouco para comprarmos nas lojas da cidade. Comprávamos apenas produtos como querosene, tecidos, sapatos, sal e café. O resto produzíamos na roça.
Com muito sacrifício, meu pai comprou um rádio que era movido a bateria. Tinha um sitiante que carregava até cem baterias com a energia proporcionada pelo dínamo da roda girada pela força d’água do córrego de sua propriedade.
O nosso lazer, além das domingueiras, era frequentar o Rio Nogueira e o Rio do Peixe. Era onde fazíamos nossas pescarias, além de banhar no rio e nas cachoeiras. No fim do ano, os meus irmãos voltavam, em férias, e aí aumentava as nossas pescarias.