Os fatos mostram que nossa vida é apenas uma breve passagem. É um tempo transitório, em que utilizamos desse perfeito, mas incrivelmente vulnerável invólucro material para usufruir do milagre existencial pleno, em todas as suas formas
Desde que o planeta propiciou as condições necessárias para a existência de vida, tudo o que vive nele tem seu início, meio e fim. Desde as incontáveis espécies vegetais, das mais delicadas e minúsculas plantas até as centenárias e gigantescas árvores, algum dia haverão de capitular ante o inexorável passar do tempo. É o ciclo da vida atuando sobre absolutamente todos aqueles que se utilizam do processo de trocas gasosas de oxigênio e dióxido de carbono. A partida repentina acontece também entre os animais que vivem na natureza, submetidos diuturnamente a uma luta incessante pela sobrevivência e sujeitos às suas respectivas cadeias alimentares. E nesse ritmo irrefreável, o ser dominante invariavelmente segue o mesmo padrão previamente determinado. Com a diferença de que, por sua ação, omissão, ignorância, interferência ou qualquer outro fator externo, acaba tendo sua presença abreviada nesse plano terreno.
Enquanto privilegiado por apresentar sensações psíquicas, também conhecidas como sentimentos e que reagem a estímulos externos físicos ou emocionais, a espécie considerada inteligente sofre com o afastamento definitivo de seus entes. Como estamos permanentemente à mercê de acontecimentos dos mais inusitados possíveis, os incontáveis exemplos de dor, sofrimento e superação mostram que o único caminho que resta é seguir em frente. Ainda que o fardo possa parecer pesado demais momentaneamente, sempre haverá um recomeço porque tudo continuará no mesmo ritmo de sempre, independentemente dos infortúnios pontuais a que todos indistintamente, estaremos submetidos em nossa caminhada.
Os fatos mostram que nossa vida é apenas uma breve passagem. É um tempo transitório, em que utilizamos desse perfeito, mas incrivelmente vulnerável invólucro material para usufruir do milagre existencial pleno, em todas as suas formas. Com ele perduramos por décadas e interagimos com nossos semelhantes, com os quais criamos vínculos profundos. As histórias e as lembranças vivenciadas por aqueles submetidos à separação física definitiva são profusas e comoventes. Do filho pequeno, que a cada dia espera inconsolável o retorno do pai, vítima de ocorrência automobilística fatal. Dos pais consternados, com os corações destroçados pela partida precoce do filho inconsequente, que apesar dos reiterados conselhos, acabou subjugado pelo consumo de substâncias alucinógenas. De pessoas das mais variadas idades, crenças e etnias, vencidas por enfermidades ainda sem cura efetiva. Do esposo dedicado, que perdeu o amor de sua vida para uma fatalidade eventual, provocada por evento natural imprevisível. De tantos pais, filhos, maridos e esposas, vítimas da violência desenfreada que assola essa nação. Da esposa enlutada, que revive em seus sonhos o retorno do amado no fim do dia, quando colocava as chaves sobre a mesa e perguntava afetuosamente “como foi seu dia?”. São exemplos de amor incondicional, ceifados definitivamente pelo inflexível ciclo da vida.
Não obstante os dramas diários e ininterruptos a que estamos permanentemente submetidos, o tempo, verdadeiro bálsamo curativo se encarregará de abrandar a dor da saudade, aquele aperto no peito que não raro faz brotar copiosas lágrimas. As feridas da alma serão gradativamente cicatrizadas, mostrando a resiliência da espécie humana ante os infinitos desafios da própria existência. São as marcas indeléveis de nosso destino. Sigamos, portanto, com a missão que nos foi confiada.
(*) José Luiz Boromelo, escritor e cronista em Marialva/PR
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