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Descanse em paz, Jaguar

Morreu hoje, aos 93, um dos fundadores do Pasquim, histórico jornal alternativo que desafiou o regime militar

Certo dia, no tradicional e aconchegante Bar Urca — esse botequim lendário à beira mar no simpático bairro com ares de vila, na cidade maravilhosa — me deparei com uma figura icônica. Era Jaguar, acompanhado da turma do Pasquim, dando entrevista a uma emissora de televisão francesa. Coisas do Rio de Janeiro e suas finesses boêmias.

O histórico jornal alternativo, que desafiou o regime militar, era um caldeirão de sátiras, cartuns e textos afiados, reunindo jornalistas, cartunistas e intelectuais icônicos como o próprio Jaguar, Ziraldo, Millôr, Tarso de Castro, entre tantas outras figuras seminais. O tabloide misturava humor, crítica social e diálogo com a contracultura, politizando-se ainda mais à medida que a ditadura endurecia.

Voltando à cena: como bom tiete, esperei pacientemente, de camarote, enquanto petiscava um bolinho de bacalhau e saboreava a cerveja de produção própria do lendário bar carioca. Que, aliás, tem um camarão maravilhoso. Ao fim da entrevista, criei coragem e pedi uma foto ao Jaguar. Ele, sempre gentil, aceitou — mas com uma condição: “Só tiro foto com cerveja na mão”. E assim foi.

Hoje, ele se foi. Boêmio convicto, pensador do Brasil, grande mestre dos rabiscos e contador de histórias, Jaguar deixou uma contribuição cultural imensa num dos períodos mais sóbrios e sombrios da nossa história.

Descanse em paz, velho Jaguar.

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