Uma educação libertadora

L

Freire quer que o aprendiz se descubra no mundo, seja um sujeito do processo histórico. Não mero repetidor de palavras

O professor e o aluno. Aquele fala; este acata, sem contestar. Um sabe; o outro, não. Um princípio lógico, cabível, mas ultrapassado e autoritário. Que considera o aluno um depósito de conhecimentos do professor. Cabe a ele assimilá-los e colocá-los em prática na profissão que escolher. A educação brasileira até hoje padece desse ranço: um aluno que aprende e um professor que ensina.

O educador Paulo Freire discorda, embora seu método nunca fora adotado no Brasil. Exceto em algumas escolas, inclusive, particulares. Também em Angico (RN), onde alfabetizou 300 pessoas em 40 horas, em 1963. Em “Pedagogia do Oprimido”, um dos seus livros mais conhecidos, Freire propõe o rompimento com o que chama de “educação bancária”. Aquela em que o professor deposita seus conhecimentos no depósito, o aluno. Para ele, ninguém sabe tudo e ninguém sabe nada, todos dispõem de um conhecimento peculiar.

Na alfabetização, ao invés de repetir palavras, ele propõe que as palavras sejam pontes para o sujeito se descobrir construtor do mundo. O aprendizado se mistura aos afazeres diários dele. Se o aluno é um vaqueiro vai se alfabetizar com palavras usadas na lida do gado. Não apenas copiá-las, mas expressar juízos sobre o que se aprende.

Freire quer que o aprendiz se descubra no mundo, seja um sujeito do processo histórico. Não mero repetidor de palavras. Ao contrário, estas devem ajudá-lo a se tornar pensante. Questionador da realidade, que não se conforma com os resultados que lhes apresentam. Assim será possível ofuscar a opressão e construir uma nação liberta com vistas a uma civilização.

Foto: Arquivo Nacional/Correio da Manhã