Agostinho, de hedonista a santo


Assim como muitos outros, ele foi afastado do paganismo, ou melhor, da mais profunda impiedade, pela luz da verdade
Para o catolicismo, é considerado santo, com comemoração no 28 de agosto. Na filosofia é um dos maiores pensadores de todos os tempos. Falamos de Aurélio Agostinho, Agostinho de Tagaste, Agostinho de Hipona, ou Santo Agostinho. Para muitos, sem ele o Cristianismo não seria o mesmo. Referência, para católicos, protestantes, ortodoxos e espíritas, da pureza cristã, do zelo na defesa da fé, dos cuidados com a vigília incessante das obscuridades da alma e de um ardor poético no louvor a Deus.
Nasceu no ano de 354 em Tagaste, antiga cidade de Numídia, norte de África. Sua mãe é Mônica de Hipon, devota cristã que exerceu grande influência na conversão dele e de seu pai, Patricius Aurelius, que era pagão e de origem romana. Mas tais conversões ocorreriam apenas décadas após o nascimento de Agostinho, e somente após vivências marcantes.
Com 17 anos Agostinho foi para Cartago estudar Retórica. Lá ele se identificou com a doutrina maniqueísta, que enxerga no mundo duas forças iguais e opostas: o bem e o mal. Tal visão era veementemente negada pelos cristãos. Nessa fase, começa também a seguir a filosofia hedonista, que tem o prazer como fim absoluto da vida. Em Cartago, passou a viver com uma mulher, um relacionamento que viria a durar treze anos. Na sociedade romana do século IV, relacionamentos como este eram tidos como uma espécie de casamento, embora não fossem reconhecidos por lei. Desta relação nasceu um menino, de nome Adeodato. Agostinho cuidou do filho, cercando-o de amor e ternura, com atenção especial ao seu desenvolvimento intelectual. Adeodato desencarnou prematuramente, aos 19 anos, de causa desconhecida.
Santo Agostinho é um dos principais propagadores do Espiritismo. Suas ponderações podem ser encontradas em O Livro dos Espíritos, O Evangelho Segundo o Espiritismo e O Livro dos Médiuns. Essa presença se justifica pela biografia desse renomado filósofo cristão. Ele faz parte da robusta linha dos Pais da Igreja, que proporcionaram à cristandade seus alicerces mais firmes.
Assim como muitos outros, foi afastado do paganismo, ou melhor, da mais profunda impiedade, pela luz da verdade. Em meio a excessos intensos, ele experimentou uma transformação interior que o levou a perceber que a verdadeira felicidade estava distante dos prazeres efêmeros.
Na codificação da Doutrina Espírita, teve importante participação, respondendo, como Espírito, através de médiuns altamente confiáveis, a questões formuladas por Alan Kardec, como por exemplo , sobre como conseguirmos atingir o tão importante conhecimento de si mesmo na questão 919- A de O Livro dos Espíritos, Santo Agostinho responde: “Fazei o que eu fazia quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar.
Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma. Aquele que, todas as noites, lembrasse todas as ações que praticou durante o dia e inquirisse de si mesmo o bem ou o mal que fez, rogando a Deus e ao seu anjo guardião que o esclarecessem, grande força adquiriria para se aperfeiçoar, porque, crede-me, Deus o assistiria.
Dirigi, pois, a vós mesmos perguntas, interrogai-vos sobre o que tendes feito e com que objetivo procedestes em tal ou tal circunstância, sobre se fizestes alguma coisa que, feita por outrem, censuraríeis, sobre se fizestes alguma ação que não ousaríeis confessar. Perguntai ainda mais: “Se aprouvesse a Deus chamar-me neste momento, teria que temer o olhar de alguém, ao entrar de novo no mundo dos Espíritos, onde nada pode ser ocultado?
Examinai o que pudestes ter feito contra Deus, depois contra o vosso próximo, e por fim contra vós mesmos. As respostas vos darão, ou o descanso para a vossa consciência, ou a indicação de um mal que precise ser curado.
Assim com Agostinho, todos seremos santos, mais cedo ou mais tarde.
Ilustração: excerto de pintura de Philippe de Champaigne