Como ascender a tirania

Todo poder construído na pressa, sustentado por acordos sombrios e alianças de ocasião, muitas vezes não cumpridos, tem prazo de validade

Caros leitores, depois de um tempo afastada da não tão pacata Maringá, retorno como quem volta de uma temporada de verão em Paris: renovada, de olhos mais atentos, ouvidos mais afiados e dedos impacientes para teclar. Ah, como é doce reencontrar esta cidade onde o poder se esconde em sussurros de corredores e o perfume da vaidade impregna o ar.

E que história deliciosa me aguarda para o meu regresso! Imaginem comigo: uma dama que, por anos, rondava os portões do castelo, pedindo uma chance. Humilde, servil, com ares disposição. O destino, caprichoso, a colocou dentro do castelo e entregou-lhe a coroa pelas mãos de um velho monarca em deposto, desesperado por deixar herança a alguém de confiança.

Mal sabia ele que a pupila de aparência frágil era, na verdade, uma estrategista voraz. Assim que sentou no trono, revelou-se a própria Rainha de Copas. E, meus caros, quando digo Copas, é porque o coração que ela oferece é sempre calculado… e raramente sincero.

De fala doce e promessas encantadas, conquistou os mais ingênuos. Mas, por trás do sorriso cortês, ergueu-se uma soberana que joga pesado. Aos amigos, afeto. Aos inimigos, o fio da lâmina. Um a um, adversários foram sendo cortados do baile, como convidados indesejados de uma festa aristocrática. E o padrinho? Hoje é um inimigo, reduzido a um retrato esquecido na parede do palácio, substituído pelo brilho da própria majestade.

Mas aqui está o tempero que apimenta este banquete: todo poder construído na pressa, sustentado por acordos sombrios e alianças de ocasião, muitas vezes não cumpridos, tem prazo de validade. E os corredores da cidade já sussurram, alto o suficiente para que todos ouçam, que a coroa balança na cabeça da Rainha. Há processos, ações e recontagens de votos rondando como fantasmas no salão. E, como bem sabemos, em contos de corte… a Rainha de Copas, cedo ou tarde, perderá a cabeça. Seja pelos tribunais, seja pela própria soberba.

Até lá, brindemos ao espetáculo. Porque em Maringá, meus queridos, a política não é apenas disputa de cadeiras: é teatro, é novela, é baile de máscaras. E eu, Madame Savage, estarei sempre na primeira fila, taça em punho, pronta para narrar o próximo escândalo daqueles que antes humilhadas agora ascendem na base da tirania.

Daquela que corta as cabeças, ou melhor, revela os segredos mais escusos do poder,
Madame Savage.

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