Recordar é viver

Reportagem liga ministros do governo Michel Temer a contrato de R$ 100 milhões envolvendo banca de Nelson Willians, o ‘advogado ostentação’ cuja prisão foi pedida hoje
A propósito do pedido de prisão do advogado Nelson Willians, feito pela CPMI que investiga as fraudes no INSS (leia mais), confirma-se a tese de que, de alguma forma, tudo passa por Maringá. Na CPMI o nome do deputado federal Ricardo Barros já foi citado.
O trecho do texto abaixo é de André Barrocal, na revista CartaCapital, em agosto de 2016, sob o título “A Geap é uma bomba“, mostrando como o governo Michel Temer abriu as portas da Geap Autogestão em Saúde, uma fundação de caráter privado fornecedora de planos de saúde a funcionários públicos, para o PP, num episódio envolvendo o então ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, um escritório de advocacia também metido com o esquema do PMDB no Porto de Santos:
“Nesses 80 dias de governo, eu acho que nós fizemos coisas boas. Mas a melhor que fizemos foi escolher os ministros.” Licença poética, certamente, as palavras do bardo Michel Temer, em um ato público na segunda-feira 1º. Três ministros já caíram, por tropeços éticos, e outro só não foi nomeado ainda por ser réu, acusado de falsidade ideológica.
Maldosamente chamado de “Eliseu Quadrilha” nos tempos do governo Fernando Henrique, o chefe da Casa Civil de Temer é outro a enveredar por trilhas perigosas. Na semana passada, CartaCapital revelou a intervenção de Eliseu Padilha em uma disputa bilionária, controvertida e cheia de DNA do PMDB no Porto de Santos. Ele agora se arrisca em mais um terreno pantanoso.
No centro desta nova trama está o PP, do ministro da Saúde, Ricardo Barros, e do presidente da Caixa Econômica Federal, Gilberto Occhi, partido amante das negociatas, como atestam as relações do doleiro Alberto Youssef com o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, descobertas pela Operação Lava Jato.
Um enredo a deixar a impressão de autoridades movidas por interesses pouco republicanos e dispostas a acobertar malfeitos, na qual aparece mais uma vez a banca Nelson Wilians & Advogados Associados, a mesma do caso Padilha-Porto de Santos. E o mais delicado: uma história em que há suspeitas de fraude em um contrato de mais de 100 milhões de reais.
Barros também foi citado pelo deputado Paulo Pimenta durante a CPI (veja ao final). Disse ele: “Então, gente, olha só, veja bem, a minha tese, presidente, quando o deputado, colega Ricardo Barros, virou ministro da Saúde, no outro dia ele nomeou um cidadão chamado Rodrigo Dendrade Vasconcelos presidente do Geap, foi no outro dia mesmo, depois do golpe na Dilma, ele virou ministro da Saúde, no outro dia ele nomeou o Rodrigo Dendrade Vasconcelos presidente do Geap, e aí o Rodrigo Dendrade Vasconcelos, mesmo o Geap já tendo uma banca de advogados, com muita rapidez aprovaram lá no conselho uma mudança no Geap e contrataram várias empresas terceirizadas para prestar serviço, entre elas o dr. Nelson para prestar serviços advocatícios e o doutor [Maurício] Camisotti [preso preventivamente] para prestar serviço odontológico e tudo mais, e aí pegaram um contrato bom lá, bom o contrato, e ficaram lá o tempo, até que houve um desacerto lá administrativo e tal, e afastaram o doutor Nelson Willians e o dr. Camisotti do Geap, que estão inclusive numa beleza judicial até hoje na Justiça Federal. Mas olha que curioso presidente, na época era presidente do Geap um cidadão chamado Leopoldo Jorge, logo que foram afastados da Geap, acharam um CNPJ engavetado e criaram a Ambec, e quem veio prestar serviço para a Ambec? O Camisotti e o dr. Nelson”.
Foto: Reprodução/CartaCapital