E a educação a distância, como vai?

A verdade é que a nossa pátria precisa de reencontrar- se em todos os setores

Felizes, o seleto e enriquecido grupo dos donos do ensino superior a distância comemora o crescimento de 300% da verdadeira explosão numérica de alunos universitários nos últimos dez anos. Finalmente, graças à internet, brasileiros de todos os quadrantes do país podem ser “doutores”. A bem da verdade, nada menos que 4 milhões de novos universitários, perfazendo 1.800 cursos superiores garantem o sucesso das mensalidades pagas com sacrifício pela inovadora massa estudantil.

Além disso, previsões dão conta de que em 2026, o número de acadêmicos eadistas poderá ser maior do que os da universidade presencial. E os novos afortunados patrões dos diplomas para todos vibram ante o sucesso do ensino superior finalmente à disposição do povo, sem distinção de classe social. Mesmo no rancho em que vive, o caboclo pode ser doutor. Não importa se ao redor dele não existem equipamentos tecnológicos, se é difícil o acesso à internet ou precária a interação com os professores. O que interessa aos novos ricos encastelados sob a fachada mágica da educação de qualidade é que aflore um novo exército de diplomados, capaz de consagrar o veredito de Celso Furtado, ao definir a nossa terra como sendo a pátria dos doutores.

– As provas são sérias?
– Sim – garante a clientela. Os milhares de alunos são obrigados a ligar a câmera…
Professores? A folha de pagamentos foi reduzida drasticamente. Choveram demissões de professores universitários consagrados que ministravam aulas em salas presenciais. Assim – garantem os novos e ricos empresários eadistas – as mensalidades pagas pelos nossos alunos tornam- se menores que as cobradas pelas universidades particulares tradicionais.

Recentemente, estabeleceu-se que alguns cursos superiores, tais como Medicina, Direito, Enfermagem, Odontologia e Psicologia deverão ser ao menos semipresenciais.

A verdade é que a nossa pátria precisa de reencontrar- se em todos os setores. Vale lembrar o que ouvi dos agricultores alemães de Sasbachwalden. “Em nossa cooperativa: se o filho leva jeito pra dirigir caminhão, que seja um bom motorista. Se o outro prefere lidar com a terra, que cuide das nossas videiras. Se o lado dominante for a lide industrial, que permaneça aqui, produzindo o melhor vinho do país. Que sejam doutores somente os que revelam talento para a pesquisa, o ensino e a extensão. Finalmente, é muito melhor ser um bom sacristão do que um padre namorador ou pedófilo, não é verdade? e riram todos.

Espontaneidade à parte, nem na mesma família os talentos são idênticos. O reconhecimento das diferenças individuais e a valorização dos talentos de cada um continuam sendo o suporte do desenvolvimento de nossos descendentes que mais e mais inseguros se encontram quanto ao amanhã das próprias vidas. 


(*) Tadeu França
ex-deputado federal constituinte

Foto: Julia M Cameron/Pexels