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O modelo híbrido “fake” da educação paranaense

Estamos sob risco eminente: as escolas que foram privatizadas devem colapsar

Para tentar ajudá-lo a entender o que acontece na educação pública estadual do Paraná, gostaria de fazer uma analogia com a tecnologia aplicada ao mercado de automóveis, que passou a contar com diversos modelos movidos a dois motores – combustão e elétrico, os chamados híbridos, para mover o veículo de forma mais eficiente e menos poluente.

Nestes modelos, se há falha em um dos motores, as consequências podem ser graves tanto para o veículo quanto para o condutor. Se há falha no motor elétrico, o consumo de combustível aumenta significativamente, pois o sistema elétrico deixa de auxiliar; o freio regenerativo deixa de funcionar, então o carro perde parte da eficiência na frenagem e no reaproveitamento de energia; maior desgaste do motor a combustão; possível superaquecimento.

Já se a falha é no motor a combustão, o carro pode funcionar temporariamente apenas com o motor elétrico, mas por tempo e alcance limitados, dependendo da capacidade da bateria; o veículo pode parar após a descarga da bateria; o sistema elétrico pode ser sobrecarregado, reduzindo sua vida útil; há risco de o carro parar subitamente se a bateria esgotar, perda de potência e de capacidade de rodagem em subidas e ultrapassagens.

O governo do Paraná, sob o comando de Carlos Massa (PSD) optou, há cerca de um ano, por um “novo” modelo de gestão da educação também “híbrido”. Passou a privatizar escolas estaduais com a promessa de melhorar a gestão e “livrar” diretores de escolas de questões burocráticas, passando a exercer apenas o papel educacional. As escolas passaram a contar com duas formas de gestão: estatal com funcionários e professores concursados, orientação pedagógica da Seed, mas também com professores e funcionários contratados pela empresa que assume a gestão administrativa da escola. Com isso, todo recurso financeiro que era repassado diretamente à escola sob gestão da direção e associação de pais agora vai – com um aporte, claro – para a empresa privada que sozinha determina como o recurso será investido.

Passado um ano do modelo, não há qualquer número, relato ou algo palpável que garanta que as “promessas” foram cumpridas. O que vemos é que a estrutura das escolas não melhorou, pois a empresa afirma que não pode realizar obras, apenas manutenção da estrutura existente. Professores e funcionários relatam pressão constante por resultados e não têm sequer direito à hora-atividade. Em muitos desses estabelecimentos, pais se mobilizam para retornar as escolas para o modelo anterior.

Estamos, então, sob risco eminente: as escolas que foram privatizadas devem colapsar. Faltam equipamentos, materiais, falta estrutura, não há resposta sobre reformas, muitos colégios ainda não tem sequer ar-condicionado. Assim como ocorre com muitos veículos híbridos, a promessa de um funcionamento perfeito não se concretizou também nas nossas escolas. Vemos falhas graves na gestão e as consequências podem ser irreversíveis, prejudicando estudantes, comunidades, servidores, empregados destas empresas.

A lógica empresarial não tem espaço no ambiente público de atendimento universal da população. Essa lógica do ganhar sempre não cabe num local em que outros fatores precisam ser observados – a condição social dos estudantes, o histórico de aprendizagem, a estrutura física da escola, a realidade da comunidade escolar, por exemplo.

Mesmo diante de tudo isso, o governador insiste num processo fraudulento de consulta às comunidades em que ele decide se a escola será privatizada caso não haja presença massiva dos pais na votação. Sem contar que o governo do Paraná incluiu novamente escolas em que os pais negaram essa proposta no ano passado. Quem ganha com isso? Não sou eu, servidor público da educação, não são os professores, não é a escola, não é o estudante. Quem ganha é a empresa, cujo objetivo não é de melhorar a educação, mas sim de lucrar seja qual for a situação.

Por enquanto, o modelo “híbrido” tem funcionado apenas nos veículos mais caros que nem eu e, provavelmente, nem você tem condições de ter acesso. A educação não pode ser algo inacessível. A constituição Brasileira ainda nos garante acesso universal à educação pública, sem qualquer atravessador. Continuemos lutando por esse direito de todos e todas.


(*) Luiz Fernando Rodrigues é funcionário de escola – agente educacional II em Maringá, formado em Marketing e especialista em Gestão Escolar

Ilustração: Reprodução

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