Plante árvores


O tornado que atingiu a localidade paranaense de Rio Bonito do Iguaçu não foi o primeiro, tampouco será o último dos fenômenos naturais a causar danos no país
Conforme o estabelecido pelo Acordo de Paris, a principais metas globais para limitar o aquecimento do planeta são reduzir drasticamente as emissões de gases do efeito estufa em cerca de 40% até 2030, a fim de evitar efeitos catastróficos. O objetivo primeiro de redução em 1,5 graus Celsius na temperatura certamente não será alcançado, porque os compromissos atuais dos países não são suficientes para garantir os limites previamente acordados.
O Brasil tem como meta reduzir suas emissões em 59 a 67% e zerar o desmatamento ilegal, objetivando minimizar satisfatoriamente os efeitos até 2050. A questão seria enfrentar os desafios inerentes a essa decisão e encarar a realidade dos fatos. Sabe-se que, pelos números atuais, a execução de metas exequíveis resultará em uma redução muito menor, estimada em 14% até 2035. Existe a possibilidade real de que o aquecimento, ao ultrapassar determinados limites, se torne uma possibilidade irreversível.
O tornado que atingiu a localidade paranaense de Rio Bonito do Iguaçu não foi o primeiro, tampouco será o último dos fenômenos naturais a causar danos no País. Mas o sinal amarelo foi aceso e de forma terrivelmente assustadora. Diante da dimensão alcançada pelo evento climático extremo, não se admite leviandades ao enumerar os fatores que provocam desajustes da natureza. Segundo especialistas, o aquecimento global se deve a ação humana como a queima de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás), ao desmatamento e a atividade agropecuária, que aumentam a concentração de gases como o dióxido de carbono. Especificamente no Brasil, reduzir a queima de combustíveis fósseis será uma tarefa extremamente complexa, em virtude de que o modal de transporte mais utilizado é o rodoviário, o desmatamento continua sem controle efetivo e a agropecuária se mostra em expansão.
Seria necessário, portanto, muito mais do que ações pontuais para se reverter o quadro atual de risco climático, porque esse é um processo extremamente diligente, que requer necessariamente o engajamento de toda a sociedade. Estamos muito distantes de iniciativas governamentais sérias e duradouras que venham a incentivar a transição para fontes de energia renovável como a solar e a eólica; que ofereçam alternativas para que as empresas passem a restringir o uso de combustíveis fósseis e a viabilizar investimentos em tecnologias limpas; e que de alguma forma, tenham o poder de incentivar os indivíduos a aderir ao consumo consciente de energia, a priorizar o uso do transporte público e a adotar a mobilidade sustentável.
Diante desse quadro de total indefinição com relação a responsabilidades, os efeitos danosos do clima destemperado se agravam a cada dia. A população está suscetível, mesmo porque não se sabe quando e onde se dará o próximo evento. O que sabemos é que o desmatamento e a extração ilegal de recursos minerais na floresta persistem, a poluição e o assoreamento das nascentes e dos cursos d’água idem, as montanhas de lixo a céu aberto já fazem parte do cotidiano, assim como as recorrentes demonstrações de desprezo ao meio ambiente. Enfim, pacote completo, embrulhado como presente de grego. A quem se interessar, um conselho sensato: plante árvores. Enquanto ainda há tempo.
(*) José Luiz Boromelo, escritor e cronista em Marialva/PR
Foto: Roberto Dziura Jr/AEN
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