Na mira do TCU

Ex-ministro da Saúde e tesoureiro do PP, deputado federal Ricardo Barros pode ser banido da administração pública por 8 anos

De Laryssa Borges, na revista Veja desta semana:

Expoente do Centrão, o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR) controla com mão de ferro um dos maiores caixas entre todos os partidos políticos do país. No ano passado, foram empenhados mais de 417 milhões de reais para financiar as candidaturas municipais. No primeiro semestre de 2025, administrou outros 48 milhões do fundo partidário, dinheiro vindo dos impostos dos brasileiros que é repassado às legendas. Para as eleições do ano que vem, esses recursos destinados à legenda chegarão à casa dos 400 milhões de reais. É uma imensa responsabilidade gerir tanto dinheiro.

O parlamentar também é um veterano da política. No plano nacional, foi líder dos governos Fernando Henrique Cardoso e Jair Bolsonaro, vice-líder de Lula e Dilma Rousseff e ministro da Saúde na gestão de Michel Temer, o cargo mais alto e visível que ocupou em três décadas de carreira. Mesmo com essa biografia, Barros corre o risco de ser banido da administração pública pelos próximos oito anos, caso o Tribunal de Contas da União aprove um relatório no qual ele é acusado de tentar beneficiar uma empresa de seu estado por interesses pessoais.

O caso ocorreu justamente quando Barros assumiu o posto mais importante de sua carreira. Em 2017, ele quis implantar no Paraná uma fábrica de hemoderivados, medicamentos feitos à base de plasma humano para o tratamento de doenças como a hemofilia. De acordo com a área técnica do TCU, para criar as condições que justificassem a construção de uma nova fábrica, ele rompeu uma parceria com a Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás), estatal que abastece o Sistema Único de Saúde com os hemoderivados. Na época, a empresa passava por dificuldades financeiras, o que, em tese, poderia justificar a mudança. A manobra, porém, colocou em risco a produção dos remédios e quase abriu caminho para que fornecedores lesados processassem a estatal e recebessem uma bolada em indenizações por quebra de contrato. O deputado tinha planos para que o Tecpar, uma estatal paranaense, passasse a produzir em Maringá, sua base eleitoral, os insumos que no projeto original seriam fabricados em Pernambuco.

Para o TCU, o episódio revelou uma “grave omissão” do ministro, que, de maneira deliberada, agravou os problemas financeiros da Hemobrás, abrindo caminho para o Tecpar. Em nota, Barros afirmou que “não há fundamento técnico” na proposta de punição e que o processo é “puro ativismo” do tribunal. “A assinatura do termo de cooperação tecnológica envolvendo o Tec­par contou com a presença do presidente Michel Temer, reforçando a legitimidade institucional das tratativas”, justificou o parlamentar. Leia mais.

Foto: Reprodução/Sindilegis