Nação rica, povo pobre


Tem-se a impressão de que a volatilidade moral do brasileiro é algo incrustado na sociedade que alcança, sem exceção, absolutamente todas as classes sociais
O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que representa o valor total de bens e serviços produzidos pelo País em 2024 alcançou a cifra de 11,7 trilhões de reais. São números impressionantes, mas ainda insignificantes ante os Estados Unidos com seus 30,34 trilhões de dólares, dados obviamente apresentados para efeito de ilustração e mensuração, sem correlação direta entre as peculiaridades das nações do continente americano. Sob outra ótica especificamente didática, o endividamento da população brasileira atingiu recordes históricos, com 79,5% de famílias tentando honrar dívidas a vencer em curto prazo e o número de inadimplência chegando próximo a 80 milhões de pessoas. As principais causas para o aumento substancial são o endividamento provocado pelo consumo irresponsável, o acesso ao crédito com juros elevados e a falta de planejamento financeiro.
Esses dados refletem uma estatística lamentável, expondo sem disfarces a índole relapsa do povo dessa terra ensolarada e vibrante, “abençoada por Deus e bonita por natureza”, que age por impulso e não mede as consequências de seus atos. De uma gente trabalhadora, mas inexplicavelmente ingênua a ponto de acreditar em “promoções” do tipo “black friday” e outras pegadinhas manjadas. As cenas de recorrentes incivilidades, protagonizadas por consumidores alucinados por produtos supostamente oferecidos a preços inferiores aos praticados regularmente não deixam dúvidas de que somos mesmo um País pobre. Pobre de espírito, de educação, de respeito, de conhecimento, de sabedoria, de um mínimo de bom senso. Sentimentos completamente ausentes naqueles que elegeram o consumismo desenfreado e inconsequente como seu estilo temerário de vida. Indivíduos altamente sugestionáveis, indiferentes a mais simplória análise sobre essa onda consumista: como pode um comerciante assegurar descontos de 30, 40, 50 por cento, se a carga tributária draconiana incidente sobre o produto supera esses valores? A conta não fecha, definitivamente.
Por essas e por outras, tem-se a impressão de que a volatilidade moral do brasileiro é algo incrustado na sociedade que alcança, sem exceção, absolutamente todas as classes sociais. Uma centena de sinônimos depreciativos poderia qualificar a atitude daqueles insensíveis, que ocupando caminhonetes de luxo resolveram saquear parte da carga de um veículo envolvido em acidente rodoviário, enquanto o motorista agonizava entre as ferragens. Ou os desvios e maracutaias em contratos de empresas com o poder público, uma fonte inesgotável de recursos, uma praga daninha enraizada e praticamente incontrolável, a sangrar os já combalidos cofres do erário. Ou ainda, os marginais engravatados que sem remorsos nem escrúpulos algum roubaram por anos a fio, com descontos fraudulentos, os indefesos aposentados.
Obviamente não se pode incluir nesse rol nefasto a imensa maioria da população, composta por pessoas honestas e que trabalham para o desenvolvimento do País. A triste realidade mostra um Brasil plural, economicamente pujante, mas perdulário ao extremo. Governantes voltados apenas aos seus exclusivos interesses, deixando as prioridades coletivas em segundo plano. Uma nação de discursos vazios, recheados de falácias sabidamente inverídicas, que confundem e induzem a população a acreditar nas inverdades tendenciosas. Uma terra de oportunidades, não fosse acometida diuturnamente pela sanha fiscal e a crescente insegurança jurídica, a tolher as iniciativas em se produzir riqueza e renda. Essa é realmente uma nação rica, com um povo pobre.
(*) José Luiz Boromelo, escritor e cronista em Marialva/PR.
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