Em tempos de vale

A ovelha, sentindo-se confortável diante do pastoreio que recebe, afirma categoricamente: “nada me faltará” (Sl 23.1). Entregue a si mesma sabe que não encontrará águas tranquilas e pastos verdejantes, coisas das quais tem necessidade e que somente o Pastor sabe como é e onde podem ser encontradas. 

Prosseguindo em sua confiança total no Pastor, ousa dizer que ainda que ande pelo vale da sombra da morte (v.4), não temerá mal algum, e isto não porque o mal não exista no vale, e sim porque o Pastor estará com ela por todo o tempo em que no vale caminhar.

Mas uma coisa precisa ser destacada, posto que nem sempre observada por quem lê o salmo. É que o mais relevante em todo o salmo não é nem o que foi, nem o que está sendo, mas o que será. Afinal, ir às águas tranquilas, é bom mas passageiro; experimentar pastos verdejantes é bom, mas não é duradouro. Passar pelo vale da sombra a morte, sendo ruim, também um dia terá fim. 

O que permanece para sempre é o habitar na casa do Pastor. Sim, no último versículo do salmo a ovelha levanta os olhos, e com toda força d’alma afirma: “habitarei na casa do Senhor, para todo sempre”. (v.6). A casa do Senhor, ou seja, a casa onde o Pastor mora, será a mesma casa onde a ovelha também vai morar, e isto lhe traz grande expectativa. Afinal, a casa do Pastor é o melhor lugar para quem ama o Pastor. Portanto, por mais incrível que possa parecer, o melhor do salmo é quando  termina, pois termina no que é eterno e bom: a casa do Pastor.

Um dia, finalmente, como sonhado, a ovelha estará na casa do Pastor e terá condições de agradecer-lhe pessoalmente pelo privilégio de habitar ali.

Quem são as ovelhas que morarão na casa do Pastor? Aqueles que em Cristo depositaram fé salvadora, o único que pode levar o homem ao Pai: “ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6). Portanto, não se esqueça de pensar que depois de andar pelo vale da sombra da morte a ovelha, finalmente, em estado de gratidão, estará na casa do Pastor, a qual está edificada do outro lado do vale. Diz a Escritura Sagrada: “nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1ª Co 2.9). Em tempos de vale, que a expectativa de estar na casa do Pastor seja trazido à memória para dar força e consolo.


(*) Lutero Paiva Pereira é advogado em Maringá