Infectologista critica ‘desserviço’ de matéria da Folha

A médica infectologista Flávia Trench (foto), de Foz do Iguaçu, em mensagem enviada ao ombudsman da Folha de São Paulo considerou a publicação de ontem sobre a suposta aplicação de vacinas com validade vencida, um dos maiores desserviços cometidos nesta pandemia. Confira o texto:

“Meu nome é Flávia Trench, sou médica Infectologista atuando no interior do Paraná. Passei boa parte do meu dia respondendo a mensagens de colegas, amigos, familiares e pacientes preocupados a respeito da notícia veiculada pela Folha de São Paulo no dia de hoje, alegando que lotes vencidos da vacina AstraZeneca foram administrados na população em diversos locais do país.

Errar é humano, mas acho próximo do impossível ter ocorrido o que a notícia relata, já que um dos profissionais de saúde mais obcecados com lotes, validade, doses e checagens é justamente o profissional de sala de vacina, e entendo ser muito pouco prováveis doses vencidas terem sido administradas em tantos municípios diferentes. Um erro pontual, aqui ou acolá seria plausível, mas este equívoco generalizado acredito ser pouco possível.

A partir do final da tarde passo a receber notícias de diversos municípios desmentindo a notícia, mas o estrago já está feito.

Num enfrentamento a pandemia que tem se destacado muito mais pela guerra de narrativas do que pela eficiência técnica da sua condução vem a Folha de S. Paulo e publica (a meu ver sem a investigação aprofundada que a delicadeza da situação requeria) uma matéria com este teor bombástico.

O Brasil sempre teve um Programa Nacional de Imunizações (PNI) extremamente efetivo – digo sem medo de errar que somos o país com maior expertise em campanhas de vacinação em massa. Tínhamos o potencial para ter sido a primeira nação no mundo a iniciar e finalizar a imunização de sua população, mas não foi o que se viu: atraso nas compras, notícias desconexas semeando insegurança para receber a vacina, algumas pessoas querendo “escolher” vacina, outros entrando na fila várias vezes e agora para jogar a pá de cal a imprensa vem e publica uma bomba dessas sem mais aquela.

Todas as atitudes que atrasam o andamento da vacinação, mantém a população em risco, facilitam a circulação viral, o aparecimento de novas variantes mais transmissíveis/agressivas e prejudicam nossa vida e a mantém a economia na descendente.

Talvez esta publicação tenha sido um dos maiores desserviços que a imprensa brasileira cometeu nesta pandemia. Espero sinceramente que a apuração dos fatos e o eventual mea culpa tenha tanto destaque quanto a reportagem veiculada.

Ah, e por favor, que não usem a desculpa de que “consultamos fontes oficiais” porque todo mundo sabe muito bem que há um delay considerável entre a informação digitada no município e a chegada dos registros no Ministério da Saúde.

Atenciosamente.

Dra. Flávia Trench – CRM 12550-PR
Professora Assistente do Curso de Medicina da UNILA

Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/5160846767354774
Foz do Iguaçu, 2 de Julho de 2021″

(Foto: Portal Unila)