Bolsonaro já tem o discurso para o autogolpe
Trecho de artigo de Thomas Traumann, jornalista e consultor de comunicação, no site da Veja:
Existem duas hipóteses para Jair Bolsonaro permanecer na Presidência a partir de 1º de janeiro de 2023. A primeira é vencendo as eleições. Não é impossível, mas está difícil. Três de cada cinco brasileiros se recusam a votar em Bolsonaro em qualquer circunstância. (…) Virar esse jogo dá trabalho.
A questão é que se o governo Bolsonaro não mudar, vai perder as eleições. O discurso de 2018 (anticomunista, contra o establishment e pelos valores cristãos) ainda seduz milhões de brasileiros, incluindo consultores de bancos, mas não faz 51% nas urnas. Ponto.
Daí vem a segunda opção para Bolsonaro permanecer no poder: um autogolpe. Também não é simples, especialmente quando o governo é considerado como ruim e péssimo por mais da metade da população. Mas a cada semana, a cada nova intimidação à Justiça e, agora, ao Senado, Bolsonaro parece estar transformando o autogolpe em uma carta na manga natural caso perca as eleições.
O raciocínio bolsonarista para endurecer o regime foi captado nesta entrevista do líder do governo Ricardo Barros aos repórteres Julia Chaib e Ricardo Della Coletta, da Folha:
“Existe o risco de Bolsonaro não reconhecer o resultado das eleições em 2022?”
Ricardo Barros: “Não sei, vamos ver até o ano que vem. Tem muita coisa para acontecer até lá.”
“Seria algo muito grave.”
Barros: “Mas isso é uma possibilidade que o TSE deveria ter ponderado quando quis mostrar força, pressionando os partidos para vencer a votação no Congresso Nacional.
As falas de Bolsonaro sobre seu apoio entre os militares e a tese das Forças Armadas como poder moderador não são formas de o presidente esticar a corda da crise?
Barros: “Quem está esticando a corda é o STF. O presidente Bolsonaro está fazendo o que sempre fez, ele não mudou. Há uma clara intenção do Supremo em esticar a corda com Bolsonaro, são decisões sucessivas e frequentes. A prisão do Roberto Jefferson agora é mais uma. Não vamos fazer de conta que o problema não existe. Ele existe, está instalado há muito tempo. Agora, vamos ver até onde isso vai”.
“Até onde pode ir?”
Barros: “Não sei, cada um sabe o que está fazendo e deve medir as consequências e os riscos. Os presidentes da Câmara, do Senado, da República, do STF e do TSE. Todos têm que medir os passos que estão dando. Não venham querer cobrar só do presidente Bolsonaro”. Na íntegra aqui.
(Foto: Marcos Corrêa/PR)