Morte assistida, eutanásia ou suicídio

Há casos e casos de suicídio, e não devemos julgar e condenar todos

A notícia ‘da morte do imortal’, da Academia Brasileira de Letras, Antonio Cicero Correia Lima, poeta, crítico literário, filósofo e escritor, no último dia 23, trouxe de volta a discussão sobre a morte assistida, aqui.

Isso porque Cicero deixou uma carta explicando sua decisão. A eutanásia, que é considerada crime de homicídio no país, foi assunto nos últimos dias. Para Roberto Livianu, presidente do Instituto Não Aceito Corrupção, e a advogada Camila Motta, ele, que defendia o “direito de viver  com dignidade”, acreditava que a morte também deveria ser digna.

Julian Fuks, escritor e crítico literário, escreveu um artigo publicado no UOL, que vamos resumir, sem concordar com sua opinião, sobre a maneira de morrer:

‘Não lembro de ter admirado alguém por sua maneira de morrer. Talvez meu pai, mas aqui isso não vem ao caso. Talvez Sócrates, tornado personagem, empenhado em aprender a tocar na flauta uma última música alguns minutos antes de tomar a cicuta. Nunca tive sensação tão cristalina de estar diante de uma morte precisa e justa, de uma morte digna, do que ao saber da partida de Antonio Cicero.

Cicero sofria de Alzheimer e há poucos dias entregou-se à eutanásia, no país onde lhe foi permitido, na Suíça. Em sua despedida explicou-se com absoluta clareza: já não recordava acontecimentos recentes, não reconhecia pessoas queridas, não lia, não era mais capaz de escrever poemas ou ensaios de filosofia. A vida se tornara insuportável, e a lucidez restante lhe revelou que ela já não valia a pena.’

Voltemos ao título, e à questão proposta. Tecnicamente, do ponto de vista da legislação Suíça, foi uma morte assistida, onde Antonio Cícero praticou a auto  eutanásia, com assistência médica, que lhe deu suporte para o ato.

A eutanásia é um procedimento médico que tem como objetivo terminar a vida de um paciente para aliviar o seu sofrimento. A palavra eutanásia vem do grego, onde “eu” significa boa e “tanathos” significa morte. É um procedimento que envolve uma série de considerações médicas, éticas e legais, diferente do suicídio assistido, pois na eutanásia é a equipe médica que administra a dose fatal no paciente.  Portanto, a conclusão é que, no caso,  houve um suicídio.

Sob a ótica filosófico/religiosa, a Doutrina Espírita nos esclarece, nas seguintes questões de O Livro do Espíritos, com perguntas feitas por Alan Kardec e respostas psicografadas por médiuns confiáveis, dadas por Espíritos Superiores: 943. De onde vem o desgosto pela vida, que se apodera de alguns indivíduos sem motivos plausíveis?  Efeito da ociosidade, da falta de fé e geralmente da sociedade. Para aqueles que exercem as suas faculdades com um fim útil e segundo as suas aptidões naturais, o trabalho nada tem de árido e a vida se escoa mais rapidamente; suportam as suas vicissitudes com tanto mais paciência e resignação, quanto mais agem tendo em vista a felicidade mais sólida e mais durável que os espera.

944. O homem tem o direito de dispor da sua própria vida?– Não, somente Deus tem esse direito. O suicídio voluntário é uma transgressão dessa lei. 944-a. O suicídio não é sempre voluntário?  O louco que se mata não sabe o que faz. 946. Que pensar do suicida que tem por fim escapar às misérias e às decepções deste mundo? Pobres Espíritos que não tiveram a coragem de suportar as misérias da existência! Deus ajuda aos que sofrem e não aos que não têm forças nem coragem. As tribulações da vida são provas ou expiações.

Assim, embora Deus tenha nos dado o livre arbítrio, o que muitos podem concluir que, exercendo-o, tenhamos o direito de escolher continuar com a existência física, ou não, é certo que o corpo físico é um bem tão precioso, dado, digamos, em comodato, pelo Criador, que temos obrigação de mantê-lo vivo, enquanto isso for possível, sob pena de infringência das leis divinas, com as consequências, muitas vezes dolorosas.

Há casos e casos de suicídio, e não devemos julgar e condenar todos.

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