Polêmica em Maringá expõe prática de arquitetos ao indicar fornecedores

Vídeo de loja de móveis revela a “reserva técnica”, comissão paga a profissionais que indicam clientes a fornecedores, e abre debate sobre ética na arquitetura
Em Maringá, um vídeo compartilhado por uma loja de móveis (assista ao final) gerou polêmica, levantando questões éticas e desconfiança no mercado, destaca reportagem do site RCC News.
Na quinta-feira, uma empresa de estofados e decorações trouxe à tona em rede social uma prática até então pouco conhecida por quem está construindo ou reformando: comissões pagas a arquitetos. Isso mesmo. Em alguns casos, o profissional pode receber uma comissão oculta, que chega a 25% do valor da venda, paga diretamente pelo fornecedor após a indicação ao cliente.
A prática tem nome: Reserva Técnica (RT). Segundo o portal especializado Bora na Obra, a RT é uma comissão que varia entre 5% e 20% do valor da compra, podendo ser maior em alguns casos.
Para os fornecedores, o pagamento seria um incentivo pela indicação, já que arquitetos e designers têm forte influência nas escolhas de quem está construindo ou decorando. Mas, na prática, isso significa que muitas recomendações podem não estar baseadas apenas em qualidade ou custo-benefício, mas também em interesse financeiro.
O que diz a lei – A lei nº 12.378/2010, que regulamenta a profissão de arquiteto e urbanista no Brasil, é clara: a prática da Reserva Técnica constitui infração disciplinar.
O Código de Ética e Disciplina do CAU/BR reforça a proibição ao determinar que o arquiteto deve recusar qualquer honorário, comissão, gratificação, vantagem ou presente de fornecedores pela indicação de produtos ou serviços ao cliente.
Na prática, isso significa que a RT configura um claro conflito de interesses, já que o arquiteto deixa de agir exclusivamente em benefício do cliente para obter vantagem própria.
Ética e transparência em debate – Segundo especialistas, o problema central está na falta de transparência. Se a RT é escondida, cria-se um conflito de interesses e um risco de prejuízo ao consumidor. Por outro lado, quando declarada e acordada com o cliente, poderia até ser entendida como uma forma de remuneração extra.
O vídeo publicado em Maringá expôs uma realidade pouco discutida e provocou forte reação. Nos comentários, muitos consumidores relataram surpresa e indignação, além de experiências semelhantes em obras e reformas.
O alerta ao consumidor – A polêmica abriu um debate que deve ganhar força em todo o país: até que ponto práticas como a RT comprometem a confiança na arquitetura?
Para os clientes, a recomendação é clara: exigir transparência. Perguntar ao arquiteto se existe algum tipo de comissão em suas indicações pode evitar surpresas desagradáveis.
Já para os profissionais, a questão vai além da remuneração: trata-se de preservar a imagem da categoria, garantir a ética da profissão e respeitar o que determina a lei.
Foto: Sven Mieke/Unsplash