Maringaenses no Prêmio ABCA

O Coletivo Kókir, formado por Tadeu Kaingang e Sheilla Souza, de Maringá, apresenta na Associação Brasileiro de Críticos de Arte a coleção Jógnam e a série Mordidas. Mais que obras de arte, as peças são declarações de existência, memória e resistência indígena
Acontece nesta terça-feira, às 19h, no Teatro Antunes Filho, no Sesc Vila Mariana, em São Paulo (SP), a entrega do tradicional Prêmio ABCA, criado em 1956 pela Associação Paulista de Críticos Teatrais com foco em 18 áreas culturais. Os troféus e menções honrosas da premiação foram produzidos pelo coletivo Kókir, formado por Tadeu Kaingang e Sheilla Souza, de Maringá.
Formado por Tadeu Kaingang e Sheilla Souza, o coletivo Kókir também deixa sua marca colaborativa na Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) com a exibição de sua coleção Jógnam (pronuncia-se ióndug), que compõe a série de troféus do Prêmio ABCA, e a série Mordidas, as gravuras em caixa acrílica que serão distribuídas como Menção Honrosa durante a cerimônia.
O título Jógnam, que significa “mordida” em Kaingang, traduz a poética da série. Uma mordida aqui não é apenas um gesto físico, mas um símbolo multifacetado de dor, esperança e renovação. O coletivo tece em suas obras o trançado, que na cosmovisão Kaingang representa o pensamento e a própria forma de existir. Ao unir elementos opostos e complementares, presentes na cosmovisão Kaingang, como as linhas longas do grupo clânico Kamé (sol) e as formas arredondadas do grupo Kainru (lua), o Kókir celebra a união de forças e a complementariedades. As gravuras da série Mordidas são um testamento dessa resiliência. Elas também foram feitas partindo da observação da transformação de grades de ventiladores em fruteiras, feita pelo povo Kaingang do Ivaí em Maringá, explicam em rede social (ao final).

A palavra Kaingang para “mordida” simboliza dor, esperança e renovação. A mordida denuncia violência, fome física e simbólica — de ancestralidade e reconhecimento — e, ao mesmo tempo, anuncia vitalidade e criatividade. Cada linha e nó do trançado Kaingang representa pensamento, memória e rezo. A união dos clãs Kamé (sol) e Kainru (lua) celebra a complementaridade e o encontro de forças opostas como princípio vital da existência.
As gravuras da série Mordidas foram inspiradas na transformação de grades de ventiladores em fruteiras, realizada pela comunidade Kaingang do Ivaí, demonstrando reinvenção e resistência, na Assindi.
O coletivo agradece Alessandra e toda equipe da ABCA, além dos parentes da comunidade Kaingang envolvidos no processo — Romilda Felipe, Gilda Abreu, Mair Gregório, Lucimar Kambé e Vanderlei dos Santos — reafirmando compromisso com memória, ancestralidade e direitos indígenas.
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Fotos: Jackson Yonegura/Tadeu Kaingang/Sheilla Souza
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