joão guido

Leitura

João Guido e A. A. de Assis

Assis por Jaime Pina
O texto abaixo é de João Guido, e foi publicado originalmente na revista Aqui (número 14), em fevereiro de 1980. Foi mantida a ortografia da época. A revista, publicada mensalmente, era de propriedade da Editora Gráfica Clichetec e tinha como diretores Genaro Dutra, Antonio Augusto de Assis, Nobuo Sotozono e Luiz Nora Ribeiro. João Guido, que também apareceu em textos de outras publicações – pouquíssimos sabem -, era um dos heterônimos utilizados pelo grande A. A. de Assis (ilustração) nos velhos e bons tempos de lida jornalística. Assis, por sinal, descansa em Balneáripo Camboriú até o final do mês.

Crônica

Quinzim Bitu rico não era

De João Guido: ilustraPraquê que enfiaram na cabeça dele aquela idéia de se mandar do seu chão de nascença? Quinzim Bitu não era rico, não era. Os quinze alqueires num fundão da Paraíba, uma área do brejo, plantando dava: A mulher Otaviana ajudando a capinar e colher, os cinco filhos sobrevividos já pegando no cabo da enxada, o mais velho com vinte, o caçula com 12, no meio Tiquita pensando em casamento. Rico não era o Quinzim Bitu. Comia fartura, as colheitas e as carnes que vendia faziam sobrar algum para a roupa nova dos dias de romaria, a família gorda e sossegada. Enfiaram na cabeça dele a notícia de que no sul a vida era muito melhor. Tinha conforto, tinha modernice, tinha alegria, tinha chiqueza, tinha carnaval, futebol, emprego fácil, dinheiro farto. Quinzim vendeu seu chão de nascença e se mandou de caminhão, de trem, desceu em São Paulo. Só sabia capinar, plantar, colher, não conseguiu emprego. Nem documento em ordem ele tinha. Continue lendo ›