“Mataram nossa filha!”

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A morte da pequena Alhandra foi tema de reportagem na RPC TV, ontem à noite, e na TV Tibagi/SBT. No centro, o atendimento (ou falta de) na UPA Zona Norte, entregue a toque de caixa por causa da última campanha eleitoral. O Ministério Público investiga se houve negligência. No Facebook, a mãe Andreza e o pai Fernando desabafaram: “Aqui estamos para fazer uma denúncia: mataram nossa filha! No dia 5/4/13 nossa filha estava com febre alta, então decidimos levá-la ao posto de saúde para que este pudesse encaminhá-la para a UPA Zona Norte em Maringá-PR. Assim aconteceu. Ela foi medicada e retornou para casa. Ela estava abatida sábado e domingo, mas estava sem febre e tomando os medicamentos indicados pela médica. Na segunda-feira por volta das 3 da manhã ela acordou com febre e logo depois começou a diarréia, mas como ela estava sendo medicada e quanto a febre estávamos calmos e para diarréia, muito liquido e como ela mamava no peito, muito leite materno nela. Na segunda de manha fomos na Maternidade Santa Rita pois ela tinha um raio x de seios da face para fazer, pois o medico do posto Pinheiros suspeitava que ela podia estar com sinusite. O exame foi feito em caráter de urgência, porque ela estava com febre e tínhamos pressa em saber o resultado. Logo após o almoço fomos novamente ao posto de saúde para que este nos encaminha-se novamente para o UPA Zona Norte. Demos entrada com a Alhandra por entre as 14h30 e 15h, mas ela demorou muito para ser atendida. Quando foi atendida a medica de plantão diagnosticou suspeita de meningite, pedindo exames, raio-X, soro e medicação. Nos colocaram no isolamento e permanecemos la por mais ou menos 2 horas. Tentaram umas 10 vezes achar veia na nossa filha, mas ela estava um pouco desidratada e por isso não conseguiam. Então desistiram. Pouco mais tarde veio um medico olhar a Alhandra e sem nenhum exame (meningite) a retirou do isolamento e há colocou junto com outras crianças que estavam com pneumonia e muita gripe. Ai então resolverão retirar sangue da artéria jugular para realizar exames (hemograma e outros, menos o da meningite, este colhido com liquido da espinha). Questionei então sobre o soro e me informaram que o médico havia suspendido o soro intravenoso. Entraram com medicação intramuscular e antitérmico, e nada de soro. Pela madrugada a Alhandrinha escarrou catarro com sangue pela boca, este caiu no lençol, então chamei a enfermeira e lhe mostrei, ela disse que ia anotar no prontuário dela e trocar o lençol. Assim foi feito. Nossa filha continuava com febre, diarréia, e nada de soro.
Pela manha fui atrás de todos os médicos da unidade (pediatria) e um jogou para o outro a responsabilidade de atender minha filha, e assim acabou, ninguém atendeu.
Depois de brigar, gritar e ser mal educada (segundo a enfermeira) conseguiram uma vaga para ela no HM (Hospital Municipal). Fomos de ambulância (esta não travava a porta sem que desse uma verdadeira pancada para que fechasse). Lá chegando, graças a Deus e ao Dr. Raimundo, minha filha viu um litro de soro. Já era tarde. Ela deu entrada no HM muito desidratada, virava o olho, sua pele estava ressecada, não fazia xixi, respirava muito mal, sua boca estava ressecada e por ela escorria um liquido marrom (hemorragia, a mesma do catarro do lençol). A equipe medica correu para atenderem Nossa filha. Dei um banho nela correndo enquanto eles preparavam a medicação. Eles nem tentaram pegar outras veias e foram direto na jugular para não perderem tempo. No meio desse procedimento ela desmaio pois estava muito fraca e sem oxigênio e como ela ainda lutava pela vida, tentava se livrar das mão que a segurava e pela força que ela fazia para isto ela desmaio. Vi que ela ficou molinha e com a boca roxa, já que era eu quem ajudava a segurar e avisei a equipe que imediatamente colocaram ela no oxigênio e toda uma parafernália para que ela conseguisse lutar mais um pouquinho. Me desesperei ao ver minha filha nos meus braços desfalecida e então me retirarão da sala. Quando retornei ela estava acordada, respirando com ajuda, no soro. Tudo o que eles podiam fazer ali foi feito. O Dr. Raimundo ficou comigo e a Alhandra o tempo todo ate que ela fosse transferida de UTI Móvel (com médico, enfermeira e socorristas) para o HU (Hospital Universitário). Ela deu entrada no HU por volta das 17:00 hs no dia 9/4/13 (terça-feira). Foi a ultima vez que vi ela com vida. Deixei ela no berço 6 da UTI pediátrica, dei um beijo nela e disse a ela que estava ali fora esperando. Foi o caminho mais difícil que fiz na minha vida. Fiquei do lado de fora esperando. Foram horas intermináveis. Tive muito apoio das mães que ali estavam com seus filhos internados, mas nada podiam fazer devido ao mal atendimento que deram a ela no UPA Zona Norte. Por volta das 19h30 ainda estávamos esperando para vê-la e derrepente todas as mães que estavam lá dentro da UTI com seus filhos saíram correndo. Perguntei a uma delas como estava minha filha e ela me disse, seja forte, ela teve uma parada e estão reanimando ela. Estávamos a um passo dela nos sentido impotentes como pais e não podíamos salvar a vida de nossa filha. Graças à destreza e comprometimento daqueles anjos que trabalham na UTI o coração da Alhandra voltou a bater fraquinho, mas batia. Pouco mais tarde entramos para vê-la. A sena era assustadora. Ela estava intubada, cheia de aparelhos, com dreno no pulmão e outras coisas quem nem sabemos explicar para que eram. Eu não conseguia ver minha filha daquele jeito, pois eu a deixei ali respirando sozinha, mas muito debilitada. Quando ela escutou minha voz e a do meu marido ela se agitou e teve uma bracardia e então tivemos que sair. Daquele momento em diante vi minha filha pela porta para que ela não se agitasse mais e tivesse outra parada, mas isto não adiantou. Durante a madrugada do dia 10/4/13 ela teve mais duas paradas e outras bracardia. Fizeram transfusão de sangue. Por volta das 5 da manha fui avisada pelo medico que o rim dela havia parado devido a forte infecção e hemorragia que ela estava por dentro. Eles entram em contato com o nefrologista, pois ela tinha que fazer uma diálise com urgência para ver se o rim voltava, mas no estado que ela se encontrava ela não ia resistir ao procedimento.
Era desesperador a impotência de ver um pedaço de você sofrendo, com dor, indo embora pouco a pouco e saber que ela não respondia ao tratamento pois estava desidratada. Saímos do hospital para respirar pois nada podíamos fazer senão orar a Deus e pedir a intercessão de Nossa Senhora pela vida de nossa filha. E assim fizemos. Estávamos sentados no banco em frente a portaria quando uma das enfermeiras pediu que entrássemos para ver nossa pequena. Entramos desesperados. O estado da nossa boneca era lastimável. Então entrei na UTI para vê-la pela ultima vez com o coraçãozinho batendo. Falei para ela que ela estava cansada e já tinha lutado muito e que se estivesse doendo que a mamãe deixava ela descansar. Então a Dr. Daniele pediu novamente que eu saísse pois iam fazer mais exames na Alhandra, foi a última vez que vi minha filha. Deixei a equipe cuidando dela enquanto esperava os médicosa para falar conosco.
Por volta das 8 da manhã a médica Daniele nos chamou e nos contou tudo o que estava ocorrendo com a nossa boneca. Ela nos disse assim: “se o estado dela era grave quando ela entrou, agora é gravíssimo. É nossa paciente mais grave. O rim dela não funciona e ela não aguenta a diálise, o fígado parou, o coração só bate com ajuda dos remédios, a hemorragia não para, a pressão esta muito baixa, o coração não mandava mais sangue pro corpo, ou seja, não havia mais circulação, e tudo isso foi agravado pela desidratação. Se ela tivesse chegado aqui hidratada sua filha iria responder a medicação, mas ela esta muito fraca e por isso não nos ajuda. Infelizmente sua filha chegou para nos tarde, sua filha tinha que ter vindo para a UTI na segunda-feira (8/4/13) e o que nos deixa ainda mais chateados é que sua filha não vai ser nem a primeira e nem a última a chegar aqui neste estado por negligência médica ou mal atendimento. (minha filha ficou da segunda-feira (8/4/13 das 14h30 ao dia 9/4/13 às 11 horas na UPA Zona Norte sem nenhum soro, sem nenhum atendimento médico, um verdadeiro descaso com a vida da minha filha. Pedi para a medica olhar minha filha e contei que ela tinha escarrado catarro com sangue e ela me disse que não era o setor dela e não podia fazer nada e que era para eu esperar e que ela ia passar o caso para outra medica porque os exames dela não tinham dado nada e que eu podia ficar sussegada, pois no setor de internamento ela não podia fazer nada. Eu esperei sim, e minha filha morreu).
A medica retornou para a UTI e depois de uns 30 minutos veio nos informar que a Alhandrinha estava em parada cardíaca havia 7 mim e que estavam tentando reanimá-la. O desespero de ver um pedaço seu indo embora era terrível. Mais alguns minutos e ela retornou: mãe estamos tentando ainda, mas sua filha não responde. Minutos estes intermináveis e angustiantes, uma dor que não passaria pelo resto de nossas vidas. E então a medica retornou informando que ela tinha partido às 9h25. Nossa pequena foi embora as 9h25 por causa de mal atendimento.
Na certidão de óbito os motivos do falecimento da Alhandra foi: hemorragia pulmonar, choque séptico, pneumonia com derrame pleural devido ou como consequência de gastroenterite e choque hipovolêmico. O choque hipovolêmico é caracterizado pela perda de grandes quantidades de sangue e líquidos, que pode levar à morte em poucos minutos. Uma das causas do choque hipovolêmico é a hemorragia, mas outras situações aparentemente menos graves também podem gerar este tipo de choque. Para o seu tratamento recomenda-se a reposição de líquidos (sangue – plasma sanguíneo) o mais rápido possível. Causas – O choque hipovolêmico também pode ser causado por perdas de líquidos como vômitos intensos, em caso de acidentes, cólera, forte diarreia e em caso de inflamações. Tratamento – O tratamento para o choque hipovolêmico é feito através da transfusão sanguínea e /ou administração de soro na veia, sendo fundamental parar a causa do sangramento, ou a situação que leva à perda de líquidos. A morte causada pelo choque hipovolêmico só ocorre se a quantidade de sangue e líquido perdida corresponder a 1/5 do volume total da quantidade de sangue de um ser humano, que corresponde a aproximadamente a 1 litro de sangue.
Amigos
Nossa princesa se foi por falta de soro, por falta de atendimento, falta de exames. Se eles tivesse tomado soro desde a hora que ela deu entrada no UPA Zona Norte ela estaria viva. A vida da nossa filha valeu um litro de soro, e eu lhes pergunto: quanto custa um litro de soro? A Alhandra pagou muito alto por um litro de soro, ela pagou com a sua vida, vida esta que só tinha 10 meses e 3 dias. Mesmo ela escarrando sangue, não fizeram nada a não ser trocar o lençol, me disseram que os exames não tinha dado nada e que ela não tinha nada no pulmão, e devo lembrá-los o exame de meningite não foi feito.
Pedimos justiça e que nenhuma outra criança passe pela dor que nossa filha passou e que nenhum pai sinta a dor que estamos sentindo agora. Está na Constituição e nos direitos humanos que todos tempos direito à saúde. mas esta está uma vergonha, um descasdo, sem comprometimento com a vida humana. A vida humana não vale nada, custa menos que um litro de soro.
Andreza Semprebom Ferreira e Fernando Rodrigues Pinto, pais da pequena Alhandra Semprebom Rodrigues. Ela nasceu em 7/6/12 e faleceu em 10/4/13. Saudades. Sua morte não vai ficar impune. Mataram você.