Do padre Orivaldo Robles:
A opinião popular a respeito dos políticos comprovadamente não é das melhores. E não se limita ao Legislativo. Figuras renomadas do Executivo não se livraram de apreciações repulsivas. Getúlio Vargas sucumbiu à acusação do “mar de lama”. Adhemar de Barros deu azo ao “rouba, mas faz”. Moisés Lupion foi processado por corrupção. Juscelino Kubistchek construiu Brasília sob denúncias de desvios de recursos. Jânio Quadros se elegeu presidente com a vassoura e a promessa de limpeza. Seu jingle: “Varre, varre, vassourinha, / varre a bandalheira, / que o povo já tá cansado / de sofrer dessa maneira”. A Ditadura Militar ocultou o que acontecia nos seus núcleos decisórios. Hoje, muitos questionam jóias do “Brasil Grande”, como Ponte Rio-Niterói, Programa Nuclear, Transamazônica, Sudam etc. Mas observando o atual panorama, esses políticos não passavam de amadores.
A História é mestra da vida, ainda que poucos aprendam. Investido de poder constituinte, o Congresso eleito em 1986 tirou desforra dos 21 anos de servilismo. Produziu uma Constituição vantajosa para os ocupantes dos Poderes: pródiga em direitos e vantagens, sovina em deveres e obrigações. Emendas posteriores foram assegurando benefícios sempre mais generosos. Os espertalhões são artistas em trocar de assento, de cargo e de Casa sem, no entanto, largar o osso. Exemplos? Paulo Maluf, Toninho Malvadeza, José Sarney, Jáder Barbalho e companhia bela. O povo é importante, como não? É usado como escada para eles alcançarem o poder. O “rouco rugido das ruas” valeu só para reconquistar as eleições diretas.
Nas cidades do interior a escola da vergonheira vai diplomando, aos milhares, aprendizes trapalhões. Ávidos de lucro, desprovidos de ética, volta e meia ganham espaço até em programas policiais. A lição vem de cima. Porém é nas bases que tudo começa. O município é a instância primeira do civismo. É onde eleitores são respeitados como cidadãos ou humilhados como palhaços.
Como acabam de provar alguns dos nossos provincianos políticos. Não é desanimador que o povo precise se defender de “representantes” que acreditava dignos de respeito? Já não basta tomar cuidado com os bandidos das ruas?
Não que eu esteja, como o velho Gaspar, desiludido da vida. Embora não negue que, mais de uma vez, em especial nestes tempos, me volta à memória o seu desabafo. Tenho convicção de que a fé assegura a vitória última do Bem sobre o Mal. Nenhum cristão se permite duvidar de que o Senhor, no momento decisivo da História, fará triunfar a justiça e destruirá toda a maldade. Mas enquanto isso não acontece, só Ele sabe quanto custa conviver com tanta indignidade.